A cidade de São Paulo, no Brasil, foi palco este sábado da "Marcha das Vadias", movimento que já passou por 15 de cidades no mundo e deverá chegar a outras dezenas ainda neste ano, para protestar contra o machismo e a violência sexual.
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No Brasil, a marcha foi organizada através da rede social Facebook e adoptada por militantes de grupos feministas.
A "SlutWalk" começou em Toronto, no Canadá, em resposta a um polícia que sugeriu, numa entrevista à televisão, que as universitárias não se deviam vestir como "vadias" ("sluts", em inglês) para diminuir o risco de serem violentadas.
Ao contrário do que aconteceu em outros países, a maioria das manifestantes brasileiras não aderiu às saias curtas, decotes e barrigas à mostra para protestar contra a mentalidade que culpa a forma de vestir da mulher pelas violações e pela violência sexual.
"Violação é uma questão de poder, não de sexo", dizia um cartaz segurado por uma manifestante. Outros faziam críticas aos padrões de beleza e às cobranças da sociedade para que as mulheres tenham um comportamento passivo.
O psicanalista Stelio de Carvalho Neto considerou que a submissão da mulher pode fazer parte da fantasia humana, mas torna-se patológica quando é concretizada, como numa violação. O especialista lembrou que, se as roupas fossem motivadoras desse tipo de violência, ela não seria praticada contra idosas ou crianças, por exemplo.
Episódios como o do polícia canadiano foram registados recentemente no Brasil e lembrados durante o protesto.
Há poucas semanas, o comediante Rafael Bastos criou polémica ao afirmar, num espetáculo de humor, que as mulheres feias deviam "dar graças a Deus" ao serem violadas.
Em 2009, o país parou para assistir um vídeo no «site» de partilha de vídeos Youtube em que a estudante Geisy Arruda era hostilizada por colegas de universidade. Na ocasião, houve quem defendesse a atitude dos estudantes, em virtude do tamanho diminuto do vestido cor-de-rosa de Geisy.
"Há uma imagem construída do Brasil em outros países por causa do Carnaval, mas aqui o machismo perpetua na forma de opressão", afirmou a estudante Thamy Radomile, de 23 anos, que aderiu à manifestação como militante do grupo feminista Marcha Mundial das Mulheres.
A expectativa era reunir 2500 manifestantes na avenida Paulista, uma das principais vias de São Paulo. O número de participantes ficou muito aquém do esperado pelos organizadores.
Para a analista de relações internacionais Mariane Rodrigues, de 27 anos, o conservadorismo ajuda a explicar a baixa adesão. "As mulheres daqui são conservadoras e despolitizadas, não querem ser enquadradas como 'vagabundas'", declarou, em referência ao nome da marcha.