A situação na capital do Mali, onde ocorreu um golpe militar, estava ao final da manhã calma, segundo o relato de uma portuguesa residente em Bamako, mas há pilhagens e disparos ocasionais. Ministério dos Negócios Estrangeiros identificou cerca de 20 portugueses, que "estão bem".
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"Não há ninguém nas ruas. Aos poucos que saem não acontece nada. Esporadicamente ouvem-se tiros para o ar, são tiros de contentamento. Estão a festejar. A tropa não esperava tomar o poder, tomou o poder e agora está eufórica e está a roubar pick-ups (...) e por isso as pessoas não saem de casa", disse à agência Lusa, por telefone, Glória Silva.
A portuguesa, natural de Águeda e que dirige uma empresa de produtos agrícolas na capital maliana, adiantou que as chefias militares já vieram apelar à tropa para que pare com as pilhagens e retorne aos quartéis.
Militares do Mali tomaram o poder em Bamako, após várias horas de combates com a guarda presidencial, afirmando ter deposto o presidente Mamadou Toumani Touré.
Uma fonte militar leal ao governo maliano garantiu, no entanto, que o presidente "está bem" e "em local seguro".
Na origem do golpe de Estado, que matou pelo menos 50 membros da guarda presidencial, estará o descontentamento dos militares com a falta de meios para combater os rebeldes tuaregues no Norte do país.
Glória Silva, que há dois anos trocou a Guiné-Bissau pelo Mali por causa da estabilidade política do país, afirmou estar calma e sem receios quanto ao futuro. "Saiu-me o tiro pela culatra. Mas, mesmo com o golpe de estado, sinto mais segurança aqui do que em qualquer altura na Guiné-Bissau", disse.
"Não estou com medo porque sinto que esta é uma revolução do povo. Foi o exército que a fez, mas foi a pedido do povo. Sinto que é o melhor para o povo, porque o povo está farto e tem razões para isso. No Norte do Mali há várias etnias trabalhadoras e depois temos uma minoria tuaregue que ainda tem escravos e vive à custa das outras tribos. As outras tribos estão revoltadas e fartas", acrescentou.
Casada com um maliano do Norte, a portuguesa sublinhou que "o povo do Mali nunca aceitou uma ditadura militar", adiantando que se agora os militares não entregarem o poder aos civis será o próprio povo a reclamar esse poder.
Contactado pela agência Lusa, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Miguel Guedes, adiantou que foram identificados cerca de 20 portugueses em Bamako que "estão bem" e que o MNE continua a acompanhar a situação no país através da embaixada de Portugal em Dakar, no Senegal, "em coordenação com outros países europeus que também têm cidadãos no Mali".
O aeroporto de Bamako está encerrado, tendo obrigado o voo de quarta-feira da TAP para o Mali a regressar a Lisboa. A TAP tem três voos semanais para Bamako e o próximo voo previsto está marcado para segunda-feira.