<p>É o próprio quem o diz. O Nobel é um incentivo à acção conjunta com outros países, uma honra que julga não merecer. Humilde e surpreendido, mas também diplomaticamente hábil, Obama agradeceu o Nobel da Paz.</p>
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Na declaração que proferiu do roseiral da Casa Branca, o presidente norte-americano, que se disse "profundamente humilde", conseguiu tirar o tapete aos muitos que criticam a atribuição do prémio às intenções anunciadas e não à obra feita em prol de um Mundo mais pacífico. E envolveu a comunidade internacional na prossecução dos objectivos de paz: "Aceitarei a recompensa como um apelo à acção, um apelo lançado a todos os países para que enfrentem os desafios comuns do século XXI".
Menos de nove meses à frente da maior potência do Mundo chegaram para que Obama convencesse o Comité Nobel de Oslo de que o seu "sonho" de um Mundo sem armas nucleares é merecedora do mais prestigiado dos galardões. A ousadia da sua mensagem de esperança terá inspirado o Comité a uma escolha já considerada como uma aposta audaz num sonho ainda longe da realidade.
A braços com duas guerras (Afeganistão e Iraque), um processo de paz do Médio Oriente que não colhe grande entusiasmo entre as partes e as negociações com o Irão ainda numa fase demasiado embrionária, a ambiciosa agenda de política externa de Obama falta cumprir-se.
Mas, para o Comité Nobel, "enquanto presidente, Obama criou um novo clima na política internacional" e a "diplomacia multilateral reencontrou uma posição central". Foram os seus "extraordinários esforços para reforçar a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos", nas palavras de Thorbjoern Jagland, que mereceram este "claro sinal de apoio". E ditaram a vitória sobre os candidatos favoritos, como o primeiro-ministro do Zimbabwe, Morgan Tsvangirai, e o dissidente chinês Hu Jia.
O envolvimento de Obama na luta contra alterações climáticas, numa radical mudança de postura em relação à Administração Bush, foram também salientados por Jagland. Significativo é também que a data de entrega do prémio - 10 de Dezembro, em Oslo - coincida com a conferência internacional sobre o Clima em Copenhaga, em que Obama se empenhou pessoalmente.
As reacções foram, como se esperava, extremadas. O laureado com o Nobel da Paz, o director da Agência Internacional de Energia Atómica, Mohammed ElBaradei, defende que Obama "transformou a forma de nos vermos a nós próprios e de vermos o Mundo em que vivemos". Por seu lado, o porta-voz dos Taliban, Zabihullah Mujahid, considera "absurda" a atribuição do prémio, acrescentando que Obama merece o "Nobel da escalada da violência e morte de civis".
O Comité Nobel comparou a distinção de Obama à de Mikhail Gorbatchev (1990) e Willy Brandt (1971), mas a verdade é que o antigo presidente soviético foi premiado um ano depois da queda do Muro de Berlim (símbolo da Guerra Fria) e o chanceler alemão após ter promovido a abertura ao Leste. Outros premiados cujas negociações encheram o Mundo de esperança na paz no Médio Oriente, não plenamente concretizada, são o presidente egípcio Anwar Al-Sadat e o primeiro-ministro israelita Menachem Begin (1978).