Moscovo e Kiev assinaram, este domingo, dia em que a Crimeia decide em referendo o regresso à Rússia, uma trégua para a região da Crimeia até ao próximo dia 21.
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"Foi assinado um acordo entre a Frota do Mar Negro (russa) e o Ministério da Defesa Russo para uma trégua na Crimeia até ao dia 21 de Março", disse, este domingo, o ministro da Defesa ucraniano, à saída da reunião do Conselho Ministros.
Recorde-se que a Ucrânia acusou, sábado, a Rússia, de ter invadido militarmente o seu território com soldados, helicópteros e veículos blindados, numa aldeia situada no outro lado da fronteira administrativa entre a península da Crimeia e a Ucrânia continental.
As assembleias de voto abriram este domingo às 8.00 (6.00 horas em Lisboa) para a realização do referendo e os primeiros resultados deverão ser anunciados por volta das 20 horas.
Um milhão e meio de eleitores foram chamados às urnas, ainda que a minoria tártara (12% da população) tenha decidido boicotar a consulta, contestada em uníssono pelo Ocidente e por Kiev e definida como "legítima" por Moscovo. Mais de 1.200 assembleias de voto vão estar abertas em toda a Crimeia até às 20.00 (18.00 horas em Lisboa).
Seis décadas após a decisão unilateral do então dirigente soviético Nikita Khrushchev de anexar esta região tradicionalmente russa à Ucrânia, as respostas às duas questões colocadas aos eleitores da Crimeia no referendo poderão definir por muito tempo as relações entre Rússia e ocidente.
"Aprova a reunificação da Crimeia com a Rússia como membro da federação da Rússia?"; "Aprova a restauração da Constituição da Crimeia de 1992 e o estatuto da Crimeia como fazendo parte da Ucrânia?", são as questões do referendo, onde se resume o dilema desta península com dois milhões de habitantes, a maioria de origem russa, na origem da mais grave crise diplomática leste-oeste desde o final da Guerra Fria.
Num território habitado maioritariamente por 58,32% de russos, 24,32% de ucranianos (ambos de religião ortodoxa) e 12,1% de tártaros da Crimeia (muçulmanos), o desfecho da consulta não deverá surpreender, atendendo a que uma sondagem recente previa um "sim" esmagador à união com a Rússia.
O resultado do referendo será validado se a taxa de participação ultrapassar os 50%.
O poder em Simferopol, apoiado pelos cerca de 30.000 soldados russos que terão entrado na Crimeia desde finais de fevereiro para manter sob controlo as unidades militares que se mantêm fiéis a Kiev, garantiram a "legitimidade e transparência" da consulta, apesar de no curto período de "campanha" não ter sido praticamente organizada nenhuma iniciativa em defesa do voto "não".