A Ucrânia considera que a Rússia lançou uma "invasão direta" do seu território ao fazer entrar, sem autorização, um comboio de ajuda humanitária. Moscovo avisou contra qualquer tentativa de "perturbar" a ajuda.
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Moscovo, que tem milhares de soldados colocados na região, deu ordem para que um número significativo de camiões passasse a fronteira e deixou, em simultâneo, um aviso contra qualquer tentativa de "perturbar" a operação humanitária. Mas não disse o que faria se Kiev tomasse alguma iniciativa militar.
A NATO considerou a iniciativa russa como uma flagrante violação dos compromissos internacionais e acusou a Rússia de usar artilharia contra as tropas de Kiev na fronteira e dentro da Ucrânia.
No que é o mais próximo que a organização chegou de acusar diretamente a Rússia de atos de guerra, o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que "estes desenvolvimentos são tão mais preocupantes quanto coincidem com a uma escalada no envolvimento militar russo no leste da Ucrânia desde meados de agosto, incluindo o uso de forças russas".
Os Estados Unidos e a União Europeia já impuseram sanções económicas contra Moscovo e o Kremlin retaliou. A NATO enviou reforços militares para os estados membros que fazem fronteira com a Rússia, incluindo os estados bálticos e a Polónia.
Rasmussen considerou que a Rússia arrisca agora um maior isolamento internacional, apesar da Europa mostrar alguma relutância em aumentar as sanções devido aos laços comerciais existentes e à dependência do gás russo.
A Rússia negou a violação do direito internacional e o Kremlin disse que Vladimir Putin tinha conversado ao telefone com a chanceler Merkel e explicado que a Rússia não poderia esperar mais pela autorização de Kiev para ajudar pessoas em dificuldade.
O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, descreveu a entrada dos camiões sem autorização como uma "flagrante violação da lei internacional". Porém, um responsável da segurança, citado pela AFP, disse que os militares ucranianos não atacariam o comboio e que o tinham deixado passar para evitar "provocações".
De acordo com Poroshenko, apenas alguns dos mais de 100 camiões que atravessaram a fronteira tinham sido inspecionados. Insistindo nas suspeitas levantadas antes de que a carga pudesse ser usada para apoiar os separatistas, o ministério ucraniano dos Negócios Estrangeiros afirmou que "nem o lado ucraniano nem o Comité Internacional da Cruz Vermelha conhecem o conteúdo dos camiões".
Rússia corre riscos, mas toma a iniciativa
A Rússia expôs-se a um enorme risco ao fazer entrar na Ucrânia uma parte dos veículos com ajuda humanitária sem o acordo de Kiev mas toma a iniciativa num momento em que os separatistas perdem terreno e antes de uma fase diplomática importante.
Classificada como uma "invasão" por parte de Kiev ou "violação" da fronteira, como lhe chamou Bruxelas, a decisão significa que não foi alcançado qualquer acordo que satisfaça Moscovo. Vários analistas internacionais citados pela Agência France Presse, consideram que "a Rússia quer evitar qualquer normalização da situação na Ucrânia", afirma Maria Lipman, uma analista independente.
"As autoridade ucranianas gostariam de proclamar a vitória sobre os separatistas aquando do aniversário da independência, no próximo dia 24", destaca Alexandre Konovalov, presidente do Instituto de Estudos Estratégicos, salientando que a Rússia quer travar esse projeto arriscando "consequências cada vez mais imprevisíveis e dramáticas".