O ambiente em Bamako, capital do Mali, está mais calmo, mas a presença militar nas ruas da cidade continua a criar tensão. Os tiros esporádicos dos militares inquietam a população, como adiantou o fotojornalista português Daniel Rodrigues, ao JN.
Corpo do artigo
Daniel Rodrigues relata que conseguiu sair, esta sexta-feira, do hotel onde se encontra com um grupo de 14 portugueses e alguns estrangeiros. Daniel encontrou uma cidade mais calma, "nada como há dois dias atrás", descreve. Algumas ruas estão já abertas, mas sentiu dificuldades quando tentou fotografar a cidade e confessa que na rua "é melhor não parar".
Os militares tomaram o controlo das estações de rádio e televisão, pelo que as ruas em volta se encontram ainda fechadas e a informação é limitada. Esporadicamente, ouvem-se tiros, mas "para marcar presença, quase uma forma de cumprimento", relata o fotojornalista.
As lojas e os postos de abastecimento continuam fechados e não há forma de obter gasóleo. O preço do combustível duplicou nas últimas 24horas.
O aeroporto está encerrado e estima-se que se mantenha assim até à próxima segunda-feira. Jornalistas e turistas apontam segunda ou terça-feira como dias de regresso a casa. Os turistas que se encontram no hotel estão calmos, "resolveram jogar cartas para se distraírem", conta Daniel.
O golpe militar que causou a morte de pelo menos 50 membros da guarda presidencial surge do descontentamento dos militares, que pedem melhores condições para combater os rebeldes tuaregues, no Norte do país.
Decorrem reuniões no sentido de se chegar a um acordo, mas ainda não há novidades quanto as soluções discutidas/encontradas. A embaixada alemã, que tem acompanhado os portugueses que se encontram no hotel em Bamako, estima que possa haver novas informações ao final do dia.
Durante a madrugada de quinta para esta sexta-feira houve um corte de energia, mas além dos habituais tiros esporádicos, não surgiram complicações acrescidas.
Em declarações à agência Lusa, Glória Silva, portuguesa que vive no Mali, dá conta de "prisões arbitrárias, roubos e pilhagens" por parte dos militares que começam a preocupar a população. Glória adianta que "não há autoridade e o povo, que ontem estava contente por achar que agora se ia fazer a guerra do norte, neste momento já diz que estas pessoas não estão preocupadas com a rebelião no norte, que vieram foi só roubar".
O Mali tinha eleições presidenciais marcadas para daqui a um mês, pelo que não se esperava que as manifestações de descontantamento resultassem num golpe de estado. Glória adianta que circulam rumores de que o presidente do Parlamento terá fugido para a Guiné-Conacri. A portuguesa garante ainda que os militares não estão a acatar ordens do comando e teme as consequências deste rumo dos acontecimentos.