Associação da Guarda diz que tecnicamente ministra foi a melhor. Falhou politicamente
O presidente da Associação Independente da Guarda considerou que Constança Urbano de Sousa foi das melhores que passou pelo Ministério da Administração Interna em termos técnicos, mas não politicamente.
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"Já era uma demissão esperada. Tecnicamente foi das melhores ministras que passou por aquele ministério, politicamente não. Na relação com as associações também não temos nada a dizer", disse José Alho à agência Lusa.
De acordo com o presidente da Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda (ASPIG), a demissão da ministra já era esperada na sequência do problema com os incêndios e depois do discurso do Presidente da República na terça-feira à noite.
A presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, Nádia Piazza, disse que o primeiro-ministro, que agora aceitou afastar a ministra da Administração Interna, considerou não ser prudente aceitar a demissão durante o período crítico de fogos.
O presidente da Associação Nacional dos Bombeiros Profissionais, Fernando Curto, disse que o que se passou com os incêndios "foi mau de mais" e considera que a demissão da ministra da Administração Interna já era expectável.
O presidente da Liga de Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, afirmou que a demissão da ministra foi o culminar de um "arrastar de problemas constantes" e que a ministra "já não tinha qualquer controlo sobre tudo o que é a governação desta área da Proteção Civil", defendendo que agora é o momento de fazer "reformas profundas".
Uma posição que vai ao encontro do Bloco de Esquerda. Pedro Filipe Soares considerou que a demissão da ministra era inevitável e argumentou que são necessárias reformas profundas na Proteção Civil.
Para os Verdes, há "décadas perdidas" em Portugal na política florestal, prevenção e combate aos incêndios florestais. Respeitando a demissão, Heloísa Apolónia considera que são necessárias "medidas urgentíssimas" para a floresta.
Para o PAN, a demissão da ministra era "inevitável". No entender de André Silva, a continuidade de Constança Urbano de Sousa "estava a fragilizar a própria posição do Governo".
O PCP reiterou a necessidade de outras políticas para a floresta e para o combate aos fogos, em vez de demissões ou pedidos de desculpa, sugerindo a revisão do défice previsto para 2018.
O sindicato que representa os inspetores do SEF considerou que a ministra da Administração Interna "nunca despegou da sua condição académica" e deixa este serviço de segurança "cheio de instabilidade e pressão".
"Com as circunstâncias e com toda a envolvente que foi criada, [a demissão] era esperada e inevitável", disse à agência Lusa o presidente cessante da Câmara da Marinha Grande, Paulo Vicente, após uma reunião com o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Capoulas Santos, que decorreu no seu concelho.
O presidente da Câmara de Pombal, Diogo Mateus, sublinhou que a própria ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, "tinha tido já essa perceção", ao ter pedido a demissão após o fogo de Pedrógão Grande. "Há quatro ou cinco meses que se percebia que não havia condições políticas para continuar. Hoje, sabemos que a ministra tinha essa mesma convicção", sublinhou autarca.
Já o líder do município de Alcobaça, Paulo Inácio frisou que durante o combate às chamas sentiu falta de meios da Proteção Civil, considerando que, face às "duas calamidades históricas em quatro meses", "havia poucas condições políticas" para Constança Urbano de Sousa continuar no cargo.
Reestruturação da GNR
No que diz respeito à GNR, José Alho destaca que desde o primeiro momento as associações alertaram para a importância da reestruturação da guarda.
"O próximo ministro terá de ter todas as condições para a reestruturação da GNR. Terá de reativar as brigadas para coordenação no trânsito e da ação da guarda a nível nacional. Reitero que tecnicamente esta ministra foi das melhores, era professora em direito administrativo, mas na prática errou profundamente ao não fazer com que os comandantes gerais pretendiam", disse.
Constança Urbano de Sousa deixou o executivo depois de meses de polémica em torno da responsabilidade política em torno dos incêndios de Pedrógão Grande, distrito de Leiria, e concelhos limítrofes, em junho, e, no domingo, na região centro, nos distritos de Viseu, Coimbra, Leiria, que fizeram mais de 100 mortos.
A carta de demissão da ministra, que ainda na sexta-feira afirmou que não sairia do Governo, surge horas depois de uma comunicação ao país do Presidente da República, a partir de Oliveira do Hospital, na terça-feira à noite.
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu na terça-feira que é preciso "abrir um novo ciclo", na sequência dos incêndios de junho e de domingo passado, e que isso "inevitavelmente obrigará o Governo a ponderar o quê, quem, como e quando melhor serve esse ciclo".
Desde os incêndios de domingo, que causaram 41 mortos, por duas vezes o primeiro-ministro, António Costa, manifestou a sua confiança política em Constança Urbana de Sousa.
A ministra da Administração Interna diz na carta de demissão enviada ao primeiro-ministro que pediu para sair de funções logo a seguir à tragédia de Pedrógão Grande, dando tempo a António Costa para encontrar quem a substituísse.