Pandemia provocou queda abrupta nas notificações. DGS alerta para maior risco de doença mais grave e letalidade.
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Em 2020, o número de novos casos de tuberculose caiu abruptamente e o tempo até ao diagnóstico da doença aumentou face a 2019. É mais um reflexo da pandemia com consequências graves numa doença em que Portugal já figura na cauda da Europa ocidental. A diretora-geral da Saúde alerta para o previsível agravamento de casos nos próximos anos, com o consequente aumento da morbilidade e mortalidade.
O aviso surge no relatório de monitorização e vigilância da tuberculose em Portugal, que é divulgado esta sexta-feira pela Direção-Geral da Saúde. "A nível global, e também em Portugal, prevê-se nos próximos anos, um recrudescimento do número de casos de tuberculose associado, inevitavelmente, à deterioração das condições económicas e sociais, ao aumento na demora nos dias até ao diagnóstico e ao risco de formas mais graves com consequente maior morbilidade e mortalidade", escreve Graça Freitas.
80 dias para confirmação
Em 2020, foram notificados 1465 casos de tuberculose (1357 novos casos e 108 retratamentos), menos 383 do que no ano anterior. A maioria dos doentes tem sucesso terapêutico (82%), mas 94 morreram.
A tendência de notificações é decrescente desde 2002, mas a redução vem acompanhada de um aumento de seis dias (para os 80) na demora mediana entre sintomas e diagnóstico. A desvalorização de sintomas e a demora na procura de cuidados pelos doentes explicam parte do atraso, mas há cerca de 15 dias que são responsabilidade dos cuidados de saúde, diz o relatório.
A distribuição da doença no país é assimétrica, mantendo-se os distritos de Lisboa e Porto com as maiores taxas de notificação. A tuberculose afeta, em particular, os sem-abrigo, dependentes de drogas e álcool, portadores de VIH e diabéticos. A proporção de imigrantes entre os doentes também é crescente e representa 27,4% dos casos.
Nas crianças, a tendência de aumento dos casos após as alterações à estratégia de vacinação em 2016 (BCG só para os grupos de risco) inverteu-se em 2020. Ainda assim, entre os 0-5 anos foram notificados 25 novos casos (44% no distrito do Porto) e, entre os 6-14 anos, 17 novos casos. Não houve mortes entre os menores.