Ano hidrológico começado em outubro está com menos de metade da produção por falta de chuva, por isso Governo reservou água para consumo humano.
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O consumo de energia, em Portugal, continua a aumentar, após o recuo dos anos da pandemia, contudo não está acima dos valores de 2018 e a capacidade instalada de produção de energia tem aumentado, especialmente ao nível das renováveis. A paragem de produção elétrica em cinco barragens, anunciada esta terça-feira pelo Governo, como medida de salvaguarda das baixas reservas de água para consumo humano não deverá ter grande impacto no fornecimento de energia elétrica, visto que, juntas, representam apenas cerca de 14,5% da capacidade instalada e quatro das cinco bacias hidrográficas em causa são das mais esvaziadas por falta de chuva.
Alto Lindoso (652 MW de capacidade máxima instalada), Cabril (108 MW), Alto Rabagão (68 MW), Castelo de Bode (159 MW) e Vilar-Tabuaço (58 MW) representam pouco mais de mil megawatts (MW) ou cerca de 14,5% da potência instalada a nível de produção hídrica em Portugal. No entanto, com as albufeiras a apenas 14,5% a 34,9% de capacidade (com exceção de Castelo de Bode, a 59,2%), em janeiro, a produção elétrica destas unidades que o Ministério do Ambiente decidiu parar seria bastante baixa. As empresas que exploram as referidas barragens ainda não se pronunciaram sobre o impacto da medida nos respetivos negócios.
Mas, com menos produção, faltará energia em Portugal?
Em janeiro, o consumo de energia esteve 6,7% abaixo do mês homólogo do ano passado, segundo dados da Rede Elétrica Nacional (REN), depois de o ano passado ter acabado com um consumo anual apenas 1,4% acima do registado em 2020, mais afetado pelas quebras devido à redução de atividade causada pela pandemia.
Em 2021, a produção hídrica ficou 4,8% abaixo da do ano anterior, muito devido à quebra na produção desde o início do ano hídrico (outubro), que tem sido mais fraco em pluviosidade. O chamado índice de produtibilidade hidroelétrica está, este ano, em 0.34 (apenas 0.39 desde outubro) continuando em cerca de um terço do que é normal.
A produção renovável aumentou 2,6%, especialmente devido à produção solar (36,7%) mas não chegou para compensar a quebra de 4,8% nas barragens: a produção total do ano caiu 5,3% e o saldo importador subiu 39,3%.
Já em janeiro deste ano, a produção hídrica esteve 45,6% abaixo da registada em janeiro de 2021, levando a produção total a menos 17,3% da registada no período homólogo de 2021. Se não chove, está sol e os painéis produzem mais do que nunca (1.39 no índice de produtibilidade em janeiro), mas não consegue compensar a falta de água visto que a capacidade instalada é inferior: a hídrica teve um total de 7129 MW em 2021, a solar apenas 1777 MW.
O vento poderia compensar (5628 MW de potência instalada em 2021), contudo também não tem sido suficiente. Em janeiro, as eólicas produziram menos 11,5% que em janeiro do ano passado. Para compensar, a produção não renovável baseada em gás natural aumentou 21,2% neste início de ano.
Entre quebras na produção e consumo abaixo do normal, Portugal ainda tem um défice que está a ser compensado pelas importações de energia a Espanha. Só em janeiro, o saldo importador aumentou 172,3%, num total de 3935 MW comprados ao país vizinho.