O ano começou seco, mas seguiu-se um período de precipitação que deixou algumas barragens perto do limite. A partir desta sexta-feira a chuva pára e as temperaturas máximas sobem.
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A partir desta sexta-feira, há um intervalo na chuva que cai há semanas. Mas essa precipitação ajudou o país a sair da seca e a encher as albufeiras, deixando algumas a 80% da sua capacidade.
"Deixa de chover gradualmente e até dia 15 não está prevista mais precipitação", avançou ontem Patrícia Marques, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Para os próximos dias, teremos uma descida da temperatura mínima e as máximas vão "subir ligeiramente", chegando aos 19 e 20 graus em Santarém, Évora e Beja, adiantou ao JN.
"Estes dias contínuos de precipitação mais intensa devem-se à posição do anticiclone, que está um pouco mais para sul e permite a passagem de superfícies frontais", pelo que "temos tido mais precipitação". Ainda assim, diz a meteorologista, é "normal nesta altura do ano".
Em janeiro, segundo o Boletim Climático de Portugal Continental do IPMA, o valor médio da quantidade de precipitação, que foi de 90,8 milímetros, corresponde a 77 % do valor normal no período entre 1971 e 2000. O mês de janeiro foi, no geral, seco e também o quarto mais frio dos últimos 20 anos.
Vinte e cinco acima dos 80%
Até dia 20 não se verificou a ocorrência de precipitação em quase todo o território e, no final de janeiro, 61,9% de Portugal continental estava em situação de seca normal, 25,6% em chuva fraca e 12% em seca fraca, numa escala que vai desde "seca extrema" a "chuva extrema".
A partir de dia 20, a chuva fez-se sentir com mais ou menos intensidade, um pouco por todo o território.
De acordo com dados da Associação Portuguesa do Ambiente (APA), "das 59 albufeiras monitorizadas, 25 apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 12 têm disponibilidades inferiores a 40% do volume total". Comparando o último dia de janeiro deste ano com o último do mês anterior, "verificou-se um aumento do volume armazenado em 11 bacias hidrográficas e uma descida em uma", refere a APA. Ainda assim, os armazenamentos por bacia hidrográfica apresentam-se inferiores às médias de janeiro de 1990 a 2020, exceto para as bacias do Lima, Cávado/Ribeiras Costeiras, Ave, Douro e Tejo.
A barragem do Alqueva, por exemplo, está próxima de alcançar o quinto enchimento pleno desde a sua construção, há 19 anos. Na terça-feira, de acordo com informações da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva ao JN, o maior lago artificial da Europa estava com 79,73% da sua capacidade máxima.
"Com o tempo mais instável e períodos de seca, a capacidade de armazenar água é fundamental" e a existente em Portugal tem-se revelado "manifestado insuficiente", considera Alfeu Sá Marques, membro da Ordem dos Engenheiro e docente na Universidade de Coimbra, especialista em hidráulica, recursos hídricos e ambiente.
Em termos de precipitação, "até podemos ter dois ou três meses bons, mas não sabemos como vai ser o verão", pelo que é cedo para prever se o país não cairá novamente em seca, adianta Alfeu, chamando a atenção para os "incêndios, desflorestação e abandono dos campos", que contribuem para o fenómeno.
Janeiro frio
O mês de janeiro foi seco e o quarto mais frio dos últimos 20 anos. A temperatura média do ar foi de 8,02 graus Celsius, menos 0,79 graus do que o verificado no período entre 1971 e 2000. Segundo o IPMA, o frio fez-se sentir sobretudo nas três primeiras semanas de janeiro.
25 albufeiras estão a 80% do seu volume total, de acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente. Doze têm disponibilidades inferiores a 40%.