Assunção Cristas justificou a candidatura à liderança do partido com a sua experiência pessoal, familiar e até religiosa, bem como pela convicção de que a política não pode ser "uma atividade de má fama", mas para os melhores.
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"Hoje, também sou política e digo-o com orgulho, porque ser política e estar na política deve-nos entusiasmar a todos e ser um motivo de orgulho para todos, não é uma atividade menor, não é uma atividade de má fama, apenas para aqueles que não conseguem fazer outra coisa na vida, tem de ser para os melhores de nós", defendeu Assunção Cristas, perante o 26.º Congresso do CDS-PP, que decorre até domingo em Gondomar (Porto).
Num discurso que começou pontualmente ao início dos telejornais (20.00 horas), Cristas disse ter feito uma reflexão sobre se deveria ou não avançar para a liderança do partido: "Aqui estou convictamente, com muita vontade de trabalhar com todos, quero fazer pelo nosso país aquilo que pude fazer pela agricultura e pelo mar de Portugal".
Assunção Cristas justificou falar pela segunda vez no primeiro dia de trabalhos com "o que ficou por dizer": um retrato sobre o seu percurso pessoal, profissional, a sua condição de mulher e mãe e a sua fé católica.
A ex-ministra da Agricultura lembrou que nasceu em Luanda, poucos meses depois do 25 de Abril de 1974, e, já em Portugal, os seus pais tiveram de recomeçar a vida aos 40 anos, dizendo que sempre o fizeram sem mágoa e com otimismo. "É esse otimismo de que sou feita, otimismo por natureza e também por razão, acredito e sei que ser otimista a pensar positivo é meio caminho andado para as coisas correrem bem (...) Falta otimismo, falta vontade de vencer, falta sonho largo como a terra onde nasci", defendeu.
Às eventuais críticas segundo as quais este Congresso estaria a ser "muito morno", Assunção Cristas considerou que tal é positivo: "Lá fora, as pessoas não gostam das ofensas, do sangue, não gostam das pessoas a dizer mal uns dos outros, gostam que olhemos para os seus problemas e encontremos uma solução".
A candidata à liderança do CDS atribuiu esta vontade de consensos e diálogo com a sua condição de mulher e lembrou que foi também o seu partido que teve a primeira líder parlamentar mulher, Maria José Nogueira Pinto. "Dar espaço às mulheres significa dar espaço a esta outra forma de estar, menos bélica, mais aberta a consensos, mas saber que a construção se faz neste diálogo ambicioso e positivo", disse.
Assunção Cristas disse ainda que a sua condição de mãe de quatro filhos não a impede, até pelo contrário, de entender que existem outros caminhos de felicidade, numa referência às chamadas questões fraturantes. "Creio que a nossa sociedade deve ter toda a abertura, todo o acolhimento, todo o respeito e não é apenas tolerância, é amor, por todos os caminhos de felicidade que as pessoas queiram ter", defendeu.
Cristas fez questão de completar este retrato pessoal salientando a sua fé católica, que considerou "o mais estrutural" da sua vida, embora realçando o caráter laico e não confessional de qualquer partido.
"Isso para mim significa um desassossego permanente - enquanto houver gente pobre, com fome, doentes, gente que precisa de nós para alcançar o nosso sonho de vida, nós não podemos estar satisfeitos", disse.
A terminar, Cristas citou um provérbio angolano: "Quem quer ir depressa vai sozinho, quem quer ir longe vai acompanhado, eu quero ir longe, muito longe, acompanhada de todos vós nesta sala e de todos os que se vão juntar a nós", disse.