Num par de dias, os cartazes que retratam o primeiro-ministro com um nariz de porco e lápis espetados nos olhos acicataram o debate político fora do parlamento. À Esquerda, critica-se quem fica indiferente a um cartaz "racista". À Direita responde-se com os cartazes contra Passos Coelho que "passou por pior".
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À primeira vista, sem contexto nem inspiração paralela, os cartazes mostrados por um pequeno grupo de professores nas cerimónias do 10 de junho não parecem ter conotação racista. Porém, António Costa associou-os ao ódio racial e desde então que o assunto tem gerado um debate político e social cada vez mais extremado.
Nuno Saraiva, assessor de comunicação do Grupo Parlamentar do PS, partilhou no Twitter uma mensagem "ao cuidado dos negacionistas" onde alerta para a "inspiração e contexto que a todos devia preocupar e enojar". A mensagem, partilhada pelo líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, é acompanhada de três imagens de propaganda antissemita onde os judeus são caricaturados como porcos.
A desumanização dos judeus nos anos que antecederam e em que decorreu a Segunda Guerra Mundial foi uma constante por parte do Governo alemão de Adolf Hitler, em particular na década de 1930 a 1940. Existem inúmeros cartazes, jogos, jornais e filmes em que os judeus eram tratados como cidadãos de segunda classe e não raras vezes eram graficamente comparados a porcos. Esta circunstância serve, agora, de argumento para vários socialistas corroborarem as palavras do primeiro-ministro.
Mas seria essa a intenção de Pedro Brito, o professor de Educação Visual que elaborou o cartaz? Segundo o próprio, não. Ao JN, Pedro Brito admite que o cartaz tem "uma sátira forte" que tem sido usada "como arma de contestação", mas "não tem absolutamente nada de racista".
À Direita, a interpretação é a mesma. André Ventura, presidente do Chega que tem defendido que não existe racismo estrutural em Portugal, afirmou no Twitter que "hoje em dia o racismo serve de argumento para tudo". Ventura apelida ainda de "triste" o país que se indigna "com uns cartazes mais esotéricos, mas vive bem com pobreza e corrupção".
Passos Coelho "passou por pior"
O vice-presidente do PSD, Miguel Pinto Luz, considera que "as palavras de ordem e as imagens, por vezes de mau gosto, são hipérboles", e que António Costa "não o percebeu". Recorda, também, que Pedro Passos Coelho "passou por pior, mas sempre com a elegância e o sentido de Estado de quem coloca o país em primeiro lugar".
Nos últimos dois dias, têm-se multiplicado nas redes sociais cartazes em que Pedro Passos Coelho surge com um bigode igual ao de Adolf Hitler. São verdadeiros e foram usados numa manifestação em 2012 quando o então primeiro-ministro se preparava para participar numa conferência organizada pela JSD. Na altura, um grupo de estudantes recebeu-o com um coelho colocado sobre uma forca de madeira.
Independentemente da interpretação e do gosto, não parece existir crime relacionado com os cartazes. Pelo menos, de acordo com o que disse o antigo bastonário da Ordem dos Advogados, Luís Menezes Leitão: "Não estamos a ver que haja qualquer tipo de crime. À partida não achamos que não estejam cobertas pela liberdade de expressão".