Centro Materno-Infantil do Norte investiga eficácia do dispositivo no diagnóstico e evolução da doença que causa mais internamentos em idade pediátrica. Agiliza resposta e pode reduzir recurso ao raio-X.
Corpo do artigo
Quando o ecógrafo lhe desliza na pele, Lourenço ri-se com cócegas. Não dói nada, a mãe está mesmo ali ao lado a segurar-lhe na mão, enquanto o médico observa o telemóvel que transmite a imagem dos pulmões da criança, de quatro anos, internada no Centro Materno-Infantil do Norte (CMIN) com pneumonia provocada pelo vírus sincicial respiratório. Por ora, é só um teste, mas o ecógrafo digital de bolso pode vir a ser uma ferramenta importante no diagnóstico e acompanhamento da evolução da pneumonia em idade pediátrica, agilizando a resposta ao doente e reduzindo o recurso ao raio-X.
O projeto venceu a 4.ª edição do prémio MSD Investigação em Saúde. Durante cerca de um ano vão ser avaliadas 76 crianças internadas no CMIN para perceber se a ecografia digital pulmonar de bolso tem qualidade suficiente para ser usada no diagnóstico da pneumonia no serviço de urgência, distinguir se a origem é vírica ou bacteriana, e para acompanhar a evolução da doença na criança internada.
tal como estetoscópio
Se os resultados forem positivos, passa-se à fase de formação dos pediatras. Para que, em breve, todos os médicos possam trazer no bolso da bata aquele aparelho que liga por bluetooth a uma aplicação instalada no telemóvel ou no tablet. "É o caminho. Estou convencido de que dentro de seis anos todos os pediatras vão andar com o ecógrafo de bolso tal como andam com o estetoscópio", projeta Caldas Afonso, diretor do CMIN.
O dispositivo já é usado nos hospitais, sobretudo em salas de emergência, mas ainda não faz parte da prática clínica pediátrica.
Reduzir uso do raio-X
Sara Monteiro, investigadora principal do projeto, detalha o que está em causa: "O grande objetivo desta investigação é perceber se com este ecógrafo conseguimos diferenciar se a pneumonia tem origem vírica ou bacteriana, e vigiar a evolução da doença", explica a médica interna de pediatria. Se a acuidade do dispositivo para diagnóstico e vigilância da pneumonia for verificada, outra vantagem é a possibilidade de reduzir o recurso ao raio-X torácico e a consequente exposição à radiação.
"O grande objetivo desta investigação é perceber se com este ecógrafo digital de bolso conseguimos diferenciar o tipo de pneumonia, se é de origem vírica ou bacteriana, e se podemos vigiar a evolução da doença"
Manuel Magalhães, coordenador da investigação, corrobora. "Frequentemente é necessário recorrer ao raio-X mais do que uma vez e, apesar da radiação já não ser o que era antigamente, é cumulativa. Por outro lado, as crianças ficam assustadas com o tamanho da máquina ou porque têm de se deslocar a outro serviço", refere o especialista, explicando que o ecógrafo digital de bolso traz mais conforto porque pode ser usado no quarto, à cabeceira do doente, e as vezes que forem necessárias porque não emite radiação.
"A pneumonia é das causas de internamento mais frequentes em idades pediátricas. Vamos avaliar 76 crianças internadas no CMIN e depois queremos formar os pediatras para todos saberem usar este ecógrafo"
Na gestão dos recursos também há vantagens. Como o ecógrafo "é para ser usado por qualquer pediatra", reduz-se a dependência dos tempos dos serviços de imagiologia e dos radiologistas, que nem sempre estão em regime presencial nos hospitais, agilizando-se a resposta ao doente.
"É um dispositivo de utilização muito fácil que nos vai permitir agilizar e melhorar a resposta aos doentes", sintetiza o diretor do CMIN, Caldas Afonso.
Pormenores
Outras aplicações
O ecógrafo digital de bolso tem outras aplicações úteis, como a pesquisa de vasos e artérias para fazer uma punção ou colocar um cateter ou diagnóstico de apendicite, explicou a médica Sara Monteiro.
Unidades envolvidas
A equipa vencedora da 4.ª edição do Prémio MSD Saúde em Investigação trabalha na unidade de pneumologia pediátrica do CMIN e na unidade de radiologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto.
Prémio
O projeto recebeu um prémio de 10 mil euros para apoiar a implementação da nova técnica de diagnóstico.