Miguel Soares de Oliveira aponta mudanças necessárias.
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Emergência e horas de espera é um discurso que não combina. O ex-presidente do INEM, Miguel Soares de Oliveira, olha para a situação do instituto, que liderou de 2010 a 2013, e aponta a necessidade de um novo paradigma.
Entre janeiro e agosto deste ano, mais de 1100 acionamentos de meios levaram, pelo menos, uma hora a serem concretizados. É admissível falar em horas em situações de emergência médica?
Como princípio, é mau quando em emergência se fala em horas. Mas é diferente falarmos de uma situação de risco de vida ou de uma situação de menor gravidade. É preciso perceber se, nesses casos, estarão situações graves e se houve algum desfecho trágico.
Nas áreas urbanas, 30% dos pedidos de socorro não cumprem o tempo de resposta das "Normas de boas práticas em trauma" (inferior a 15 minutos), seguidas pelo INEM. Isto coloca vidas em risco?
Nas áreas urbanas, a maioria das situações não é traumas, pelo que a aplicação dessas normas poderá não ser indicada. Colocará eventualmente em risco, se nesses 30% estiverem casos graves. Situações de menor gravidade poderão esperar, sem que daí resultem, habitualmente, consequências adversas. É, ainda, fundamental perceber se essa realidade é limitada no espaço e/ou no tempo ou não.
Como se melhoram os tempos de socorro?
A resposta fácil é aumentar os meios. É fundamental dotar o INEM de capacidade para adquirir as ambulâncias e contratar os técnicos de emergência necessários, tornando a carreira mais atrativa. Mas a atuação do INEM depende de outros intervenientes: quando se define que há isenção de taxas moderadoras nos serviços de urgência (SU) para quem for transportado pelo INEM, está-se a induzir um aumento da sua procura; quando os SU estão sobrelotados, a admissão dos doentes é mais lenta e as ambulâncias ficam retidas nos hospitais; se há mais pessoas sem médico de família, estas irão chamar o INEM. Tudo isto aumenta os tempos de socorro.
O INEM deve redefinir os critérios de transporte ao hospital?
Deve alterar o seu paradigma e promover a implementação de cuidados de urgência ao domicílio e a referenciação para o local mais adequado, que nem sempre é uma urgência.