De janeiro a agosto, 1155 acionamentos do INEM atrasaram-se mais de uma hora. Esta semana, houve um aumento com 32 chamadas em espera. Falta de meios e saídas não urgentes são problema.
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A resposta dos serviços de emergência pré-hospitalar deve contar-se em minutos desde o pedido de socorro até ao momento em que a ambulância chega à vítima. Mas todos os dias, em média, há cinco acionamentos feitos pelo INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) que demoram mais de uma hora a serem concretizados. Alguns entre duas e três horas. A este tempo, soma-se a viagem da equipa até à ocorrência.
Entre janeiro e agosto deste ano, 1090 acionamentos de meios de emergência demoraram entre uma e duas horas e 65 entre duas e três horas. São 1155 casos, uma média de cinco por dia, em que os operadores demoraram mais de uma hora a encontrar um meio disponível. Outros 149 acionamentos demoraram entre 30 minutos e uma hora. Estatisticamente, correspondem a 0,117%, a 0,007% e a 0,016%, respetivamente, dos 931 685 acionamentos feitos pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM naqueles oito meses.
Parece pouco relevante, não estivessem por trás daqueles 1304 acionamentos vítimas a precisarem de socorro e familiares em grande ansiedade. "É inconcebível e inaceitável falar em horas em emergência médica", reage o presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH). "Depois da chamada ser triada como emergência, o meio tem de estar disponível", diz Rui Lázaro. Mas a realidade não é essa, reconhece. O sindicato já enviou mais de mil denúncias sobre atrasos na resposta para o Ministério Público. Mas a situação mantém-se. Na segunda-feira, apurou o JN, o CODU chegou a acumular 32 chamadas, das quais seis com mais de 30 minutos de espera.
Os tempos de resposta com mais de uma hora e de duas horas foram enviados ao JN pelo INEM, depois do presidente do instituto ter dito na comissão parlamentar de Saúde que, nos primeiros oito meses do ano, "o INEM acionou os meios com menos de uma hora de atraso em 99% das situações". Na audição, Luís Meira elogiou o trabalho do CODU e pediu para que "não se confunda a árvore com a floresta".
Reforço é "falácia"
A falta de técnicos de emergência pré-hospitalar, que motiva a inoperacionalidade de ambulâncias do INEM nos centros urbanos e deixa os CODU desfalcados, é, para o STEPH, a base do problema. A "política" de enviar ambulâncias para todas as situações, mesmo as que não configuram emergências, ocupando meios desnecessariamente, agrava as dificuldades, nota Rui Lázaro, que defende a contratação de mais técnicos, melhores salários e a revisão dos fluxos de triagem.
O INEM assegura que as zonas onde há mais dificuldades foram identificadas - distritos de Lisboa, Setúbal e Faro - e estão reforçadas com ambulâncias dos bombeiros até ao final de novembro. Rui Lázaro diz que é uma "falácia". "Passaram as ambulâncias "reserva" dos bombeiros para "postos de emergência médica". Na prática, não há acréscimo".
30% das respostas não ocorrem no tempo adequado
As "Normas de boas práticas em trauma", da Ordem dos Médicos, que o INEM segue, definem que o tempo de resposta, desde o acionamento do meio até à vítima nas áreas urbanas deve ser inferior a 15 minutos e nas áreas rurais inferior a 30 minutos. Este ano, 30% dos pedidos de socorro nas cidades não cumprem o tempo preconizado. Nas grandes cidades, como Lisboa e Porto, o INEM nota que o aumento do trânsito "afeta a deslocação dos meios de emergência médica". Nas zonas mais remotas, 12% das respostas demoraram mais de meia hora. Ainda assim, o instituto sublinha que os valores estão em linha com os de sistemas de emergência médica de países como Espanha e Reino Unido.
Casos
20 agosto 2022, Almada
O pedido de socorro para um homem de 86 anos, com patologia cardíaca grave, em Almada, foi feito às 17.56 horas e só quarenta minutos depois foi enviada uma ambulância, que partiu de Lisboa, denunciou o STEPH.
18 julho 2022, Lisboa
Uma mulher de 83 anos caiu na rua em Campolide, Lisboa, e esteve mais de uma hora à espera de uma ambulância, acabando por morrer no hospital. O INEM abriu um inquérito, que foi, entretanto, avocado pela Inspeção da Saúde.
21 agosto 2022, Setúbal
O acionamento de uma ambulância para um homem de 55 anos, em situação de paragem cardiorrespiratória, demorou mais de uma hora. A situação também foi denunciada pelo sindicato e enviada ao Ministério Público.
28 setembro 2022, Matosinhos
Um homem de 52 anos sentiu-se mal na rua, em Matosinhos. No primeiro contacto, o INEM quis reencaminhar para o SNS24. Após mais duas chamadas, acionou meios, mas a vítima morreu. Foi aberto um inquérito.