A Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEA) e a Associação de Doentes Obesos e Ex-obesos de Portugal (Adexo) insistem na importância de reduzir as listas de espera para cirurgias e comparticipação dos medicamentos para dar resposta aos milhares de pessoas que aguardam tratamento.
Corpo do artigo
Esta quarta-feira celebra-se o Dia Mundial da Obesidade e, em Portugal, mais de metade (62%) da população é obesa ou pré-obesa, de acordo com um estudo divulgado em fevereiro pelo Instituto Ricardo Jorge. A SPEO diz que a tendência é de crescimento.
"Os nossos maiores problemas são as listas de espera, que continuam longas, e a comparticipação dos medicamentos para as pessoas que não estão indicadas para cirurgia que não existe", disse Carlos Oliveira, presidente da Adexo, sublinhando que "há pessoas que desistem dos tratamentos porque os medicamentos são muito caros".
Lígia Cruz, 34 anos, não encontrou a resposta que precisava no Serviço Nacional de Saúde. Pesava 157 quilos quando, há três anos, foi operada. "Só para a primeira consulta no público tinha de esperar um ano e, até ser operada, eram dois ou três anos. Desanimei", conta. Acabou por ir para o privado, onde pagou "cerca de 8000 euros" por um minibypass gástrico, cirurgia pela qual esperou um mês e que a ajudou, em três anos, a chegar aos 82 quilos.
A técnica ainda é pouco usada nos outros hospitais, mas representa cerca de 90% das 200 cirurgias de obesidade realizadas no Curry Cabral, em Lisboa. O médico António Albuquerque, daquele hospital, defende que é uma técnica "mais simples, rápida e com menos probabilidade de ter complicações operatórias" e com "bons resultados" em termos de perda de peso.
Esforço insuficiente
"Sabemos que o Ministério da Saúde fez um esforço para aumentar o número das consultas e cirurgias de obesidade. Apesar de meritório, não é suficiente", explica Paula Freitas, presidente da SPEO. "É urgente prevenir e estabelecer uma estratégia de combate à obesidade que dê frutos até ao final desta década que agora iniciamos".
A responsável defende um "diagnóstico mais atempado e reencaminhamento dentro do sistema de saúde". Existe, também, "necessidade de uma reestruturação dos programas de tratamento existentes no país. Há que dotar os profissionais de saúde dos Cuidados de Saúde Primários de conhecimentos sobre o tratamento global da obesidade, mas também de meios físicos e económicos", diz.
Nos cuidados hospitalares, a SPEO diz que "é preciso aumentar o número de consultas para doentes com obesidade sem critérios para cirurgia de obesidade". E para que estas consultas tenham maior sucesso, "é necessário comparticipar os fármacos para o tratamento médico da obesidade, já que atualmente existe uma muito baixa acessibilidade, nomeadamente nas populações economicamente mais desfavorecidas, que são aquelas que têm uma maior prevalência de obesidade", reforça a especialista.
O JN pediu dados das listas de espera mas não conseguiu obter esclarecimentos do Ministério da Saúde.
Duas centenas de doenças associadas
A obesidade está associada a mais de 200 outras doenças, como diabetes, dislipidemia, hipertensão arterial, apneia do sono, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares, incontinência urinária e cerca de 13 tipos de cancros. Também é responsável por alterações musculoesqueléticas, infertilidade, depressão, diminuição da qualidade de vida e mortalidade aumentada. Isto faz com que represente também um grande "fardo" do ponto de vista económico, pelos seus custos, lembra a SPEO.