Bruno Godinho é obeso e sofre de várias patologias. Aguarda por uma cirurgia que não sabe se chega a tempo de o salvar.
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A dificuldade com que Bruno Godinho, de 37 anos e 210 quilos de peso, concilia a respiração com o simples ato de falar é reveladora da gravidade do seu estado. Bruno precisa de uma operação bariátrica, mas a primeira consulta para a especialidade de cirurgia geral-obesidade estava marcada para fevereiro de 2022. Após a conversa com o JN recebeu uma boa notícia, a data tinha sido antecipada para fevereiro de 2021 (um ano), mas o processo ainda é longo. "Morro se tiver de esperar um ano pela operação", assegura. Além do peso, os problemas respiratórios, que o obrigam a recorrer ao ventilador para dormir, juntam-se a insuficiência cardíaca e ao VIH, vírus de que é portador.
Com obesidade mórbida de grau III, Bruno conta que sempre teve problemas com o peso. "Tenho um historial de vida muito complicado. Houve uma fase em que vivi na rua. Comia mais do que devia num dia porque tinha medo de não ter o que comer no dia seguinte. Graças a Deus, consegui superar. Infelizmente muitos moradores de rua não têm essa possibilidade" .
Quando a pandemia chegou a Portugal, Bruno trabalhava numa imobiliária. O confinamento de março fechou-o em casa e os distúrbios alimentares voltaram a agravar-se.
Medo de cair
"Não quero ser gordo. Vivo sozinho. Tenho medo de ficar acamado e não ter ninguém para me dar apoio. Ando devagarinho e sempre com medo de cair". No ano passado ganhou coragem e decidiu pedir ajuda ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde é seguido por causa do VIH.
"Tive consulta em setembro, falei com a endocrinologista que me explicou que tipos de cirurgia existem. Eu disse que queria a mais radical de todas, a bariátrica em que é retirada uma parte do estômago."
A trabalhar no ramo imobiliário, fortemente afetado pela pandemia, Bruno vê-se agora dependente de um apoio do Segurança Social e dos amigos que o ajudam a pagar as contas.
Ainda antes da pandemia por covid-19, a lista de espera das cirurgias para o tratamento da obesidade era das mais atrasadas. As duas vagas pandémicas levaram ao cancelamento de quase todas as cirurgias programadas (que implicam internamento), a não ser nos casos urgentes. No portal que indica os tempos médios de espera para cirurgias e consultas de especialidade, com dados de julho a setembro de 2020, a indicação é de que a maior parte das instituições não realizou cirurgias à obesidade.
No Santa Maria, só no parâmetro "normal-doença não oncológica", o tempo de resposta é de 774 dias. Nos restantes, a indicação é de que não foram realizadas cirurgias no período divulgado.
Vida por um fio
"Eu sei que há mais pessoas como eu, e cada caso é um caso. Só que acho que o tempo que nós esperamos para salvar as nossas vidas é longo. Estou triste e a ver-me cada vez mais sozinho. Estou esquecido. Tentar falar com os médicos é horrível", relata. Além do tratamento da obesidade, Bruno também pediu apoio psicológico. "Só que psicólogo nem vê-lo", acrescenta.
"O Serviço Nacional de Saúde acha que nós temos de saber esperar. Só que há pessoas que podem esperar e há outras cuja vida está por um fio", lamenta.
No caso de Bruno, só depois da consulta de especialidade é que ficará a saber se a sua cirurgia é considerada urgente.