Sem serviços mínimos, a expetativa do líder da Fenprof é que, esta terça-feira, "centenas de milhares de alunos" não tenham aulas e que muitos do 5.º ano não realizem as provas de aferição a História e Geografia. Mário Nogueira pediu aos docentes "um sinal inequívoco" num dia de greve com uma data simbólica: 6.6.23, precisamente o tempo congelado por recuperar (6 anos, 6 meses e 23 dias).
Corpo do artigo
Quase no final de um ano letivo de intensa contestação, Mário Nogueira acredita que a greve, convocada pelas nove organizações sindicais, "vai ter uma adesão muito elevada. É provável que, em muitas escolas, não haja aulas, mesmo que não fechem, porque a greve é só de docentes", frisa ao JN.
Lourival Costa será um dos professores em greve. O professor de Educação Física, de 54 anos, completa a 1 de setembro, 30 anos de serviço. Devia passar para o 9.º escalão, mas ainda está no 6.º. O congelamento e a revisão da carreira custaram-lhe oito anos, com impacto direto no que ganha todos os meses (menos 400 euros) e no que receberá quando se aposentar: em vez de 1400, cerca de 800 euros, já que só deve conseguir chegar ao 8.º escalão. Pelas medidas aprovadas pelo Governo para mitigar o congelamento, vai recuperar "um ano". O tempo, defende, é "fundamental" por respeito, dignidade e valorização da carreira.
Trabalhar ao fim de semana sem receber um cêntimo
"Como vão arranjar 100 mil novos professores em 15 anos, se não valorizarem a carreira?", questiona, alegando que a não recuperação do tempo, já conseguida nos Açores e na Madeira, "é uma opção política e não financeira". Efetivo em Barcelos, Lourival Costa está em mobilidade no agrupamento do Freixo, faz 56 quilómetros por dia. Quase todos os fins-de-semana acompanha as equipas de Desporto Escolar, sem receber um cêntimo de horas extraordinárias, mas raramente assistiu às atividades da filha. Não esconde o receio pelo futuro da carreira e pelos alunos que ficarão cada vez mais sem aulas.
Sem vislumbre de negociações quanto à recuperação do tempo, Mário Nogueira rejeita que tenha sido um ano perdido. Os professores, sublinha, estão habituados a longas batalhas. "Desistir, agora, seria pôr em causa o futuro da luta, com este ou até com o próximo governo", diz, garantindo que, sem respostas, o próximo ano letivo "será igual a este. Se o ministro não tem capacidade para dar respostas aos problemas então, se calhar, precisamos de outro".
Agenda
Duas manifestações
Esta terça-feira, haverá duas manifestações: no Porto, às 10.30 horas a partir do Campo 24 de Agosto e até aos Aliados e, em Lisboa, às 15.30 horas, a partir do Marquês e até à Assembleia da República.
Novas greves
As nove organizações sindicais anunciaram greve às avaliações finais, exames do Secundário e provas do 9.º ano. O Governo vai pedir serviços mínimos.