O presidente da Associação Nacional de Praças confirmou ao JN que a atual guarnição do NRP Mondego, o navio que falhou pela segunda vez uma missão na passada segunda-feira, está sem "água, luz e comida a bordo". O grupo tem de se deslocar a terra para poder tomar banho e alimentar-se.
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"Estão a tomar banho de água fria e têm de se deslocar cerca de mil metros para um edifício da delegação marítima que está desativado. Têm de se deslocar a um supermercado para comprarem as suas refeições. O navio está completamente inoperacional", disse Paulo Amaral, presidente da Associação Nacional de Praças ao JN. A guarnição tem atualmente 26 elementos.
A edição do DN Madeira tinha avançado, esta quinta-feira, que os militares do "Mondego" fazem a alimentação e a higiene pessoal fora da embarcação, que continua atracada no Porto do Caniçal. O NRP Mondego foi rebocado para este local, depois de ter ficado parado a caminho das Ilhas Selvagens, onde iria fazer a rendição de elementos da Polícia Marítima e de vigilantes da Natureza.
Ainda antes de iniciar a viagem, a RTP-Madeira captou imagens da embarcação envolta numa nuvem de fumo, no Porto do Funchal, na Madeira. O JN não conseguiu, até ao momento, confirmar com a Marinha qual a atual situação do navio Mondego e da respetiva guarnição.
Depois do incidente de segunda-feira, a Armada anunciou que seria feita uma nova inspeção à embarcação. O Comando da Marinha da Zona Marítima da Madeira apontou na altura, em comunicado, que o navio regressou na manhã de terça-feira "em segurança" ao Porto do Caniçal, por motivos de "ordem técnica".
Recorde-se que esta é a segunda vez que o NRP Mondego falha uma missão. A 11 de março, um grupo de 13 marinheiros não embarcou na missão de acompanhamento de um navio russo por alegada falta de condições de segurança, o que motivou processos disciplinares e um inquérito criminal em curso.
Publicação nas redes sociais cria mau estar
Três publicações da Marinha nas redes sociais foram acompanhadas, na quarta-feira, por uma frase que está a criar algum mal-estar entre os militares: "As mulheres e os homens da Marinha cumprem!". Paulo Amaral refere que a afirmação é uma "publicidade enganosa". "É uma fuga para a frente" relativamente aos últimos acontecimentos, defende. "É claro que os homens e as mulheres da Marinha cumprem", conclui.
Já o presidente da Associação Nacional de Sargentos, António Lima Coelho, aponta que as expressões podem estar a ser usadas para "retirar alguma pressão" aos casos recentes. O dirigente recusa, no entanto, que a frase seja extrapolada e associada ao caso dos 13 militares que não embarcaram no "Mondego".
O grupo de marinheiros está a ser alvo de um processo disciplinar pela Marinha e de um inquérito criminal por parte da Polícia Judiciária Militar. O Ministério Público suspendeu na semana passada o interrogatório dos quatro sargentos e nove praças, que estão agora integrados em unidades de terra.