O Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) repudiou "todos os comportamentos que extravasem os deveres legais, deontológicos e disciplinares e que ponham em causa os direitos dos utentes, dos profissionais, nomeadamente a reserva da sua vida privada, e o bom nome das instituições" após o diretor do Serviço de Cirurgia 1 ter partilhado, num grupo privado do WhatsApp, informação pessoal e clínica da médica interna que o acusa de encobrir onze casos de alegada negligência e más práticas.
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Num comunicado enviado às redações, o Conselho de Administração disse não se rever "nas abordagens mediáticas, de matéria que é delicada, que têm efeitos nefastos, a nível pessoal e coletivo, eventualmente irreparáveis". "Aguardaremos as conclusões das entidades externas com competência nos diversos âmbitos, legal, pericial, disciplinar ou deontológico, prestando-lhes toda a nossa colaboração, e acataremos as responsabilidades e as recomendações delas emanadas", lê-se na mesma nota.
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O Conselho de Administração apelou ainda à tranquilidade e garantiu continuar a promover "um clima de diálogo e de transparência".
O diretor do Serviço de Cirurgia 1 do Hospital de Faro partilhou, num grupo privado do WhatsApp, informação pessoal e clínica da médica interna que o acusa de encobrir onze casos de alegada negligência e más práticas. Os dados terão sido fornecidos por Pedro Henriques, ex-orientador de formação de Diana de Carvalho Pereira, também visado nas denúncias, aos quais acedeu através dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS).
No início deste mês, a médica denunciou 11 alegados casos de erros e de negligência no serviço de Cirurgia do Hospital de Faro, ocorridos entre janeiro e março, tendo apresentado queixa na Polícia Judiciária contra o seu ex-orientador de formação e o diretor do serviço de Cirurgia do Hospital de Faro. De acordo com Diana Pereira, dos 11 casos reportados, três dos doentes morreram, dois encontravam-se internados à data da denúncia internados nos cuidados intermédios e os restantes tiveram lesão corporal associada a erro médico. Um dos doentes esteve uma semana com compressas no abdómen.
Entretanto, a médica - que foi ouvida na quarta-feira passada no Hospital de Portimão no âmbito do inquérito interno instaurado pelo Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) -, pediu a suspensão do internato médico de formação específica de Cirurgia Geral, medida que está prevista na lei, enquanto decorrem os processos de averiguações aos casos reportados.
O Ministério Público também instaurou um processo para averiguar as denúncias feitas por Diana Pereira e a Ordem dos Médicos anunciou a criação de uma comissão técnico-científica de peritos, médicos independentes, para avaliar os casos reportados.
Dezenas de pessoas em manifestação de apoio a médica
Cerca de 50 pessoas participaram, este sábado à tarde, em Faro, numa manifestação de apoio à médica interna que denunciou alegados casos de erros e de negligência no serviço de Cirurgia do Hospital de Faro. Na concentração convocada por um movimento de apoio à médica Diana Pereira, que ganhou dimensão nas redes sociais, os participantes exibiram faixas e cartazes onde se lia: "Quanto barulho cabe no silêncio" e "Defender para proteger".
A concentração iniciou-se pelas 17 horas, junto à igreja de São Luís, nas imediações do Hospital de Faro, tendo os manifestantes seguido depois num cordão humano, em silêncio, que circundou a unidade hospitalar. Cerca de uma hora depois, as cerca de 50 pessoas pararam junto à entrada principal do Serviço de Urgência do hospital onde cumpriram um minuto de silêncio "por todos os doentes ali hospitalizados".
Nídia Silva, uma das organizadoras do evento, disse à agência Lusa que a manifestação "teve como objetivo, mostrar a gratidão para com a médica, que teve a coragem de denunciar 11 casos ocorridos na unidade hospitalar". "A manifestação que surgiu da vontade espontânea de um grupo de cidadãos, pretende agradecer a coragem da doutora Diana, ao denunciar aquilo que outros não têm coragem de fazer", apontou.
Nídia Silva fez questão de destacar "que o protesto é de cidadãos para cidadãos e não é contra os profissionais de saúde, médicos e enfermeiros, mas sim pela coragem demonstrada por Diana Pereira e contra o mau serviço hospitalar". "Os médicos são humanos e erram, mas há que admitir os erros e cabe à administração corrigir as situações que não estão bem", notou.
Aquela organizadora adiantou que esperava a participação de mais pessoas, "já que a página na rede social Facebook criada para apoiar a médica, tem mais de 800 seguidores". "Pelo apoio que foi demonstrado para a convocação da manifestação esperávamos muito mais pessoas. Infelizmente, isso não aconteceu, mas foram poucos e bons", concluiu.