Thaís está há sete meses em Portugal e só agora conseguiu agendar entrevista.
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Quando o marido foi convidado para trabalhar em Portugal, na área da engenharia informática, Thaís Campos, de 30 anos, nunca pensou que fosse tão difícil para o resto da família - ela e uma bebé, agora com dez meses - emigrar. Desde abril em solo luso, só há poucos dias é que a cidadã brasileira conseguiu agendar a entrevista, junto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), para o final de dezembro. O objetivo é conseguir a autorização de residência por reagrupamento familiar.
"Viemos todos juntos. Como o meu marido tinha sido convidado, regularizaram logo com ele os números de identificação da Segurança Social [NISS] e fiscal [NIF], tal como o agendamento no SEF. Mas eu e a minha filha tivemos que entrar como turistas", conta Thaís, a residir em Gaia.
A partir daí, recorda, começou uma saga que ainda não terminou: ter uma entrevista no SEF para obter a autorização de residência. "O maior impacto que senti foi no acesso à saúde. Sem número de utente, podíamos ser atendidas no hospital, mas não era possível passarem-nos exames nem medicamentos", explica.
Tirar número de utente, NISS e NIF, assim como abrir uma conta no banco, obrigou a imigrante a "pedinchar", junto dos serviços públicos portugueses. "Sinto um certo preconceito nas repartições públicas. E há uma complexidade em tudo que acaba connosco", lamenta.
Quatro dias a telefonar
Thaís, contabilista de profissão, tenta regularizar a sua situação em Portugal por duas vias: por um lado, através do reagrupamento familiar; por outro, tendo entregado, há três meses, uma manifestação de interesse. No final da semana passada, soube que o SEF tinha aberto vagas para agrupamento familiar. E, de imediato, telefonou para tentar agendar a entrevista. "Foram quatro dias a telefonar, sem parar. Das 7 às 20 horas, não fiz mais nada. Comprei um cartão da operadora Nos, porque dizem que é mais fácil por aí. Mas nada. Acabei por conseguir através do telefone fixo da creche da minha filha, porque já tinha ouvido dizer que também era melhor através de um fixo", relata.
A angústia só terminará quando tiver a autorização de residência nas mãos. Afinal, já viu oportunidades de trabalho na sua área escaparem por não ter esse documento. "A nossa vida está baseada nesse título", conclui.