José Matos, secretário-geral da Associação de Comerciantes de Materiais de Construção, falou com o JN sobre o setor da construção e das obras públicas.
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Porque é que faltam concorrentes a obras públicas?
De acordo com as interações que temos no âmbito da fileira, o problema radica na falta de atratividade dos concursos. A procura do setor privado é intensa e o setor está a trabalhar no limite da capacidade, ou mesmo além dele. Os organismos públicos têm revelado alguma inércia na atualização dos custos, quer da mão de obra, quer mais recentemente dos materiais.
Quais os materiais que mais se inflacionaram?
Em primeiro lugar, o aço, com subidas que no pico foram da ordem dos 50% a 60%, seguido de produtos de cobre, os tubos e outros produtos de PVC, pelos betuminosos e pelas madeiras, todos acima dos 40%. Entre 20% e 30% contam-se os produtos cerâmicos, a cortiça, o vidro, as caixilharias de alumínio, as tubagens e acessórios para redes prediais e os isolamentos térmicos e acústicos. O cimento, os inertes, os tijolos, os blocos de betão, os produtos para instalações elétricas, tiveram acréscimos entre os 10% e os 20%.
Quais os motivos para a inflação na construção?
Numa primeira fase, a partir do final de 2020 e início de 2021, foi sobretudo devido à disrupção dos sistemas logísticos que conduziu à escassez e ao aumento dos preços dos transportes. Numa segunda fase, foi o aumento dos preços da energia e dos combustíveis ocorrido há cerca de um ano e agora impulsionados pela guerra na Ucrânia.
De que forma se pode contornar este problema?
A curto prazo, não há muito a fazer. É incorporar os preços atuais nos orçamentos dos projetos. A prazo, é importante alterar a forma como se constrói e reduzir o tempo de execução dos trabalhos, poupando quer na mão de obra, quer no volume de recursos materiais utilizados. É preciso "industrializar" a construção, recorrendo mais à pré-fabricação e a sistemas modulares.
Que evolução estima para os preços no futuro?
Temos a expectativa de que os preços irão descer. Aliás, já estão novamente a descer desde maio. A velocidade e a intensidade é que são mais difíceis de prever. Se nada de perturbador acontecer, julgamos que a normalização das cadeias de abastecimento e a redução do ritmo de atividade económica mundial irão provocar uma redução de preços até ao segundo semestre de 2023 que, em todo o caso, deverão ficar acima, entre 5% e 10%, de 2019.