Lula pede mais diálogo e ousadia nas relações económicas entre Portugal e Brasil
Em declarações aos jornalistas no arranque da agenda oficial desta visita de cinco dias a Portugal, Lula da Silva defendeu que os dois países têm um enorme potencial de crescimento no comércio, pedindo mais ousadia e "diálogo" entre governos e empresários. "Pecamos porque conversamos pouco. O papel de um presidente da República é abrir a porta mas quem tem competência para fazer negócios são os empresários", afirmou.
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A Rússia não devia ter invadido a Ucrânia mas invadiu. Em vez de escolher um lado, quero escolher a terceira via, a da paz
O presidente do Brasil começou por explicar que este regresso a Portugal "é especial", sendo a sua primeira visita de Estado desde que tomou posse, nas últimas presidenciais. Apesar de expressar o "prazer" que é voltar a encontrar-se com os "amigos portugueses", o chefe de Estado aproveitou para deixar um recado: pedir mais diálogo entre as pátrias.
"É preciso sermos mais ousados. É preciso que os nossos ministros conversem mais. Pecamos porque conversamos pouco. O papel de um presidente da República é abrir a porta mas quem tem competência para fazer negócios são os empresários", referiu.
O pedido surgiu poucos minutos depois de recordar, com boa disposição, "o lapso" de Marcelo Rebelo Sousa, que, numa visita ao Brasil no início do ano, nadou no lago Paranoá, local onde, na semana seguinte, apareceu "um jacaré". "Da próxima vez, por favor, não deixem o presidente Marcelo mergulhar no lago", frisou.
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O chefe de Estado abordou ainda "os fenómenos extremistas" que ganham força na política e o discurso de ódio na Internet, aspetos que representam, defende, "um risco para a democracia". Lula da Silva mostrou-se profundamente apreensivo com o "clima de ódio na política" que está a crescer, em particular, nos últimos seis anos. O recurso a notícias falsas é uma das armas dos extremistas e alerta para os "algoritmos que mexem com a cabeça do povo e mudam o voto. Estamos a viver o renascimento do extremismo, que nega tudo o que é democracia".
Ao lado de Marcelo, Lula da Silva anunciou que está a ultimar um projeto de lei que, na próxima semana, dará entrada no Congresso Nacional para criar uma regulamentação para evitar a disseminação da mentira através da internet.
Na sequência da polémica gerada em torno das declarações de Lula sobre o conflito na Ucrânia, o presidente do Brasil afirmou que, em vez de escolher um dos lados do conflito, prefere escolher "a paz". "A Rússia não devia ter invadido a Ucrânia mas invadiu. Em vez de escolher um lado, quero escolher a terceira via, a da paz", referiu. Questionado pelos jornalistas, disse ainda que só vai a Kiev quando houver a possibilidade de construção dessa paz. "Temos de encontrar pessoas dispostas a falar sobre paz. O que parecia impossível aconteceu na Segunda Guerra Mundial. Parem enquanto é tempo".
Além disso, recordou que o Brasil condenou "há muito tempo" a ação da Rússia na Ucrânia, inclusivamente com o voto contra na ONU. "Entretanto, não ficamos favoráveis à guerra, somos favoráveis à paz".