O Roaccutane prescrito para o tratamento do acne está a ser investigado no Reino Unido após a morte de dez jovens por suicídio no país em 2019. Em Portugal, o Infarmed está atento ao medicamento, mas confirma que nenhuma pessoa morreu após o uso do fármaco.
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No Reino Unido, o uso de Roaccutane com uma substância ativa chamada isotretinoína está debaixo de fogo depois de ter sido registada a morte de doze pessoas que usaram o fármaco para o tratamento do acne. Destes óbitos, dez estarão relacionados com suicídio, segundo o jornal britânico "The Guardian". A Agência Europeia do Medicamento está atenta ao fenómeno do medicamento e tem diretrizes para os organismos de vários países.
De acordo com fonte do Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde), ouvida pelo JN, não há registo de mortes em Portugal após a prescrição do fármaco, que será usado para "casos extremos de acne". O estado depressivo de alguns doentes devido ao problema de pele poderá ser indicativo de problemas do foro psiquiátrico, mas não há uma causalidade apontada entre o uso do medicamento e o suicídio.
"Informamos que foi feita uma pesquisa no sistema de notificações de reações adversas em Portugal e não foi notificado qualquer caso de óbito potencialmente associado ao referido medicamento", esclarece a Autoridade Nacional do Medicamento por escrito. Porém, o uso da substância ativa isotretinoína é usada em vários fármacos que estão a ser "monitorizados". "Os médicos estão avisados", esclarece a mesma fonte.
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Na bula do medicamento, a referência a problemas de saúde mental é clara: "estes incluem depressão, tendências agressivas ou alterações do humor. Inclui também pensamentos sobre auto mutilar-se ou suicidar-se".
As mudanças de humor e de comportamento durante o uso da isotretinoína podem também acontecer. Na informação adicional está escrito que "é muito importante que diga aos (...) amigos e família que está a tomar este medicamento". No Reino Unido, estima-se que 30 mil pessoas tomem este fármaco todos os anos.
Desde março de 2018 que o Infarmed tem uma circular informativa que alerta que os retinoides orais (moléculas químicas) com substâncias como a isotretinoína devem ter uma advertência para a "possível ocorrência de perturbações do foro psiquiátrico (como depressão, ansiedade e alterações de humor)". Em 2013, um triângulo preto invertido começou a ser inscrito nas embalagens deste tipo de medicamentos.
O Infarmed esclarece que muitos estudos continuam a ser feitos a fármacos com isotretinoína, mas não há, para já, uma "casualidade direta apontada" para os casos de suicídio. Quatro laboratórios em Portugal têm autorização para comercializar o medicamento, embora apenas dois o façam.
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Além das diversas informações adicionais disponíveis para a comunidade médica, os utentes e profissionais em Portugal têm material didático caso tomem ou prescrevam este medicamento, respetivamente.
No Reino Unido, os estudos não apontam uma causa direta entre a morte por suicídio e o Roaccutane, contudo os efeitos secundários têm sido notados. Vários pais registaram mudanças no comportamento dos filhos após a toma do medicamento para o tratamento do acne.
De acordo com o "The Guardian", um dos pais relatou em tribunal que o filho mudou totalmente a personalidade após o uso do fármaco. O adolescente de 16 anos morreu de overdose.
O Centro de Informação de Saúde e Assistência Social em Inglaterra ("NHS Digital"), citado pelo jornal britânico, registou que as prescrições com isotretinoína subiram de cerca de 34 mil em 2008 para mais de 69 mil em 2018 no Reino Unido.