Foram milhares os professores, funcionários e técnicos de todo o país que se manifestaram durante a tarde de sábado em Lisboa, numa marcha pela escola pública e pelo direito à greve, convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.TO.P.). O sindicato apelou ao fecho de escolas na segunda e terça-feira, antes do arranque dos serviços mínimos. A 290 quilómetros de distância, em Viseu, o primeiro-ministro, António Costa, insistiu que o Governo quer acabar com o regime atual em que os professores andam "com a casa às costas".
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O S.TO.P. estimou que cerca de 80 mil profissionais tenham enchido as ruas da capital, entre o Ministério da Educação e o Palácio de Belém. Um"mar de gente" que aderiu ao protesto marcado apenas há sete dias, sublinhou o líder sindical André Pestana. A luta dos professores por melhores condições salariais e de trabalho motivou a manifestação, que acabou por ser, também, uma expressão de desagrado à decisão do Tribunal Arbitral (conhecida anteontem) de impor serviços mínimos nas escolas a partir de 1 de fevereiro, após o pedido do ministério tutelado por João Costa.
Na rua, os manifestantes deram voz ao "ataque ao direito à greve", sublinhando que "a escola não é um depósito nem é um restaurante", mas sim um sítio para aprender. Foram várias as vezes em que pediram a demissão do ministro. Rosa Xisto, professora de biologia e geologia em Oeiras, critica a iniciativa do Governo: "Os serviços mínimos só devem ser definidos dentro dos hospitais e de serviços que garantem a sobrevivência de pessoas".
Pedem posição do presidente da República
Ao fim de uma marcha de mais de três quilómetros, entre palavras de ordem, apitos, tambores e buzinas, os manifestantes concentraram-se no jardim em frente ao Palácio de Belém, onde gritaram "está na hora do presidente vir cá fora".
Uma delegação dos manifestantes foi recebida por consultores da Casa Civil, entre os quais Isabel Alçada, escritora e ex-ministra da Educação. Foi entregue informação que esperam que chegue às mãos de Marcelo Rebelo de Sousa. Eugénia Ribeiro, professora vinda de Sines e quase no fim da carreira, pede a atenção do chefe de Estado. "Já sabemos que não está a querer interferir, mas esperamos que fique sensibilizado, porque mais do que nunca temos de cuidar da nossa escola, para os nossos filhos, netos e bisnetos e todos aqueles que vierem", advertiu.
Ao sair da curta reunião, André Pestana adiantou que aguarda que o presidente da República "veja as notas e tome uma posição" sobre as reivindicações dos professores, caso contrário, permanecendo "neutral" a uma "situação de injustiça", estará a "tomar o lado do opressor".
Esta é a terceira marcha, convocada pelo S.TO.P. desde dezembro, tendo juntado sempre milhares de pessoas. No discurso final, André Pestana lembrou que a "última palavra" é dos professores e do pessoal não docente e, por isso, apelou que, na segunda e na terça-feira, antes do arranque dos serviços mínimos, sejam fechadas escolas de norte a sul. "Faremos o maior número de cordões humanos e de arruadas possíveis. Não paramos".
No dia em que os professores voltaram a sair à rua, o primeiro-ministro garantiu que o objetivo do Executivo socialista mantém-se: mudar o modelo de contratação para tornar a carreira mais atrativa, sendo, por isso, necessário "fixar, aproximar e acabar com a precariedade". E repetiu: "Não podemos ter uma carreira docente valorizada, se os professores passarem dezenas de anos com a casa às costas".