Portugal ultrapassa os quatro milhões de casos desde o início da pandemia. Região Norte e faixas etárias mais jovens registam o maior impacto.
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Com 24 538 novas infeções na passada terça-feira, Portugal ultrapassou a marca dos quatro milhões de casos. Que estão agora a duplicar a cada 15 dias, num crescimento diário de 4,8%. Os óbitos inverteram a trajetória, com uma média diária de 22,5. Se a mortalidade pesa nas faixas etárias superiores, a incidência cresce a um ritmo maior nos mais novos. Com destaque para a Região Norte. Estabilizados mantêm-se os Cuidados Intensivos, longe do limiar crítico. Nada que, para já, entendem os peritos, justifique uma reversão das medidas. Exceto o fim dos testes gratuitos. Que deveria ser retomada.
De acordo com os cálculos do matemático Óscar Felgueiras, a média a sete dias (dados a 9 de maio) subiu 31% em termos nacionais, mas chegou aos +45% na Região Norte. Não sendo a região com maior incidência por 100 mil habitantes, é aquela com um crescimento mais rápido, explica ao JN.
Tal como nos óbitos. "Em média", o Norte "passou dos quatro óbitos/dia a 21 de abril para os sete/dia", explica o matemático Carlos Antunes. E na terça-feira respondeu por mais de metade dos 27 óbitos registados naquele dia. Percurso idêntico verifica-se nas enfermarias dos hospitais do Norte: "Já vão em 456, quando em meados de abril estavam nas 260 [camas]", sendo que metade são ocupadas por pessoas com mais de 80 anos, diz o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Quanto às Unidades de Cuidados Intensivos, estão estabilizadas na ordem das 60 camas.
Numa leitura nacional, a mortalidade por covid subiu para os 26,7 óbitos por um milhão de habitantes a 14 dias. Segundo Carlos Antunes, 86% ocorrem nos mais de 70 anos. Colocando a mediana, diz Óscar Felgueiras, no nível mais alto de sempre: 87 anos.
A questão, diz o professor da Universidade do Porto, é saber de que forma o crescendo de novos casos impactará nos mais idosos. Neste momento, explica, a subida sente-se sobretudo nos mais jovens, em particular nos 10-19 anos. "O ritmo de aumento nos idosos é muito inferior às restantes faixas, mas é natural que alastre. E se aumentarem teremos impactos na mortalidade".
Antecipar o reforço
Razão pela qual o epidemiologista Manuel Carmo Gomes repete: "Temos de proteger os mais idosos. Em cada quatro óbitos, três têm mais de 80 anos". Porque "vai ser difícil travar no imediato" esta subida de casos.
Questionado se essa proteção se faz pela antecipação da segunda dose de reforço da vacina, prevista para os maiores de 80 a partir do final de agosto, Carmo Gomes não se quis pronunciar. No entanto, o JN sabe que a Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid está a analisar esse assunto.
Quanto à restante população, "a circulação do vírus reforça a imunidade natural para o inverno". Suspeitando Manuel Carmo Gomes que "no outono/inverno surja outra subvariante capaz de provocar uma subida". Pelo que não faz sentido, entende, "reverter medidas, nomeadamente a tomada a 21 de abril, do fim das máscaras". Quando se verificar um "impacto nos óbitos, aí devemos repensar, para já não".
Já a decisão de acabar com a gratuitidade de testes de antigénio nas farmácias "devia ser repensada". Até pelas informações de "entupimento do SNS24 e de maior afluxo de doentes às Urgências". Levando a positividade a disparar, estando agora nos 36%. Fazendo com que "o nível de circulação seja bastante maior do que os casos indicam", adianta Óscar Felgueiras.
O Governo já admitiu reverter a medida se a situação se agravar. O JN questionou o Ministério da Saúde, mas não obteve resposta.