Com a chegada da UIM à cidade da Horta não pudemos deixar de passar pelo famoso Peter Café Sport. O atual proprietário, José Henrique Gonçalves Azevedo, concedeu-nos uma agradável entrevista que queremos partilhar.
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-Como começou tudo isto?
-No início do séc. XX, quando o meu bisavô, Ernesto Azevedo, criou um bazar. Mais tarde fundou a Casa Açoreana que vendia artesanato e bebidas, e onde podemos desfrutar do famoso gin e bolo de chocolate. O meu avô, Henrique Azevedo, desenvolveu o negócio batizando-o de Café Sport devido à sua ligação próxima à atividade desportiva. A escolha do azul na decoração advém de uma oferta holandesa. A baleia resulta obviamente por ter coincidido com a época áurea da caça à mesma.
- Porquê Peter?
- José Azevedo, o meu pai, trabalhou a bordo do navio H.M.S. Lusitânia II. Um oficial deste navio apelidou-o de Peter, nome que incorporou depois na designação do Café.
- Qual é o segredo da receita do gin?
- Não posso desvendar, mas tendo acompanhado desde pequeno o crescimento deste Café, acredito que o modo de preparação conferido pelo sabor peculiar do limão e a água tónica da ilha conferem a sua particularidade.
- Que outras particularidades tem o Peter"s que lhe conferem a sua originalidade?
- O Café é mais do que o gin, é uma casa de acolhimento que recorda os tempos em que o meu pai recolhia as autorizações médicas encurtando os tempos de espera dos navegadores e em que se trocava a correspondência. De alguma forma, o Peter procurou sempre criar um refúgio.
- Que tipo de refúgio?
- Por se tratar de um local de reunião o Faial é, para muitos, o paraíso. Recordo com saudade o dia em que um grupo musical cansado após o concerto me pediu para abrir as portas a fim de relaxar. A prontidão e a forma generosa como foram recebidos refletiu-se tempos mais tarde quando os Torvante lançaram a música "a ilha" em sua homenagem.
- Do vasto número de pessoas que por aqui passaram que histórias recorda com mais carinho?
- O café Sport é uma referencia mundial, pois sempre acolheu todo o tipo de pessoas com varias historias e de diferentes lugares e por isso naturalmente se criou uma grande família. Varias personalidades passaram por aqui desde o Rei de Espanha Don Juan Carlos, o Presidente da República Portuguesa, Jacques Brell, Antonio Tabucchi, famoso autor do livro "A Dama de Porto Pim". Apesar de várias bandas e cantores terem passado por esta casa, confesso não ter nenhum preferido mas sim uma época preferida. Entre abril e junho existe uma concentração de vários veleiros de todo o mundo que cria uma mística única. Lembro-me de um fotógrafo, em 1974, que decidiu tirar um retrato das três gerações do café Peter"s, tinha eu 14 anos. Uma surpresa fantástica surgiu 30 anos mais tarde quando o mesmo fotógrafo regressou para tirar a foto com o meu pai e agora os meus filhos.
- Qual foi o episódio mais invulgar que presenciou no Café?
-Um que mostra como o mundo é pequeno. Há cerca de sete anos atrás uma guia trouxe um grupo de cinco pessoas, mãe, filha e netos, em busca de um familiar perdido durante a segunda guerra mundial. Só 50 anos depois tiveram a possibilidade de aceder aos arquivos e iniciar a procura. Após uma busca infrutífera pela Terceira, chegaram à Horta perguntando pelo Visconde Covil Kluross. Por entre papéis descobri que este tinha sido comandante do navio onde o meu pai trabalhava e tinha guardada uma carta de recomendação elogiando as suas qualidades.
- Que viagem recorda pelas condições em que decorreu?
- Passei por grandes tormentos na minha primeira viagem a caminho de São Miguel, em 1979. Tinha 19 anos e após um dia de navegação fantástico o mar pregou-me uma partida. Os ventos eram fortes, o barco começou a inundar e a única opção possível era regressar a casa. Ao sexto dia quando finalmente regressei, o mastro partiu-se no porto.
Ainda hoje estou agradecido pela minha sorte.
-Que previsões faz para o futuro?
- Tenho três filhos e teria gosto em que o café continuasse na próxima geração mas acredito que nada é eterno e que um dia tudo pode mudar.