Ritmo da vacinação e rácio cuidados intensivos/casos permitem alargar matriz de risco. Limiar das UCI nas 255 camas. Curva já está a descer e R nacional chegou a 1.
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Apresentada a 11 de março como farol da pandemia em Portugal, a matriz de risco tem estado no centro da discussão. Se, na altura, apenas 3% da população tinha a vacinação completa, hoje esse valor rondará já os 50%. Com impactos na mortalidade e nos internamentos, apesar da incidência elevada. Razão pela qual os peritos que traçaram as linhas vermelhas consensualizaram novas métricas. A linha vermelha crítica da incidência poderá duplicar para os 480 casos a 14 dias por 100 mil habitantes e o limite de camas ocupadas em cuidados intensivos (UCI) covid passar das 245 para as 255.
Este último indicador, aliás, foi já assumido pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) no relatório da passada sexta-feira das linhas vermelhas, ao mencionar o "valor crítico definido de 255 camas ocupadas". Acréscimo que estará relacionado com a afetação de mais camas em UCI por algumas administrações regionais de saúde.
Os peritos que em março desenharam as linhas vermelhas, e que serviram de base à matriz de risco do Governo, voltam a ser ouvidos esta terça-feira no Infarmed, atualizando as premissas de março. Numa lógica de conjugação de vários indicadores que não apenas a incidência e o R, monitorizados de perto. Recomendação sujeita, agora, à decisão política.
O novo limiar nos 480/100 mil dá "segurança em termos de risco epidemiológico", explica ao JN o matemático Carlos Antunes. Porque o "racional entre internamentos e taxa de incidência tem uma capacidade de acomodação que pode ir aos 600 casos". Por efeito da vacinação, que nos permite hoje assistir a "uma redução de 70% na letalidade, de 50% nos internamentos em enfermaria e de 10% a 20% em UCI", diz o professor da Faculdade de Ciências de Lisboa. Decréscimo tanto maior quanto maior a faixa etária. Acima dos 60 anos, revela, temos hoje reduções nos óbitos e nos intensivos de 72% e 79%, respetivamente.
Ou seja, desmontada, "esta redução da gravidade permite ter uma maior incidência para a mesma gravidade". Mas, sublinha, "monitorizando as faixas de risco" e salvaguardando a área da saúde pública para prevenir um ressurgimento. Numa matriz "dinâmica, podendo ser revista de 15 em 15 dias".
Curva a descer e R de 1,0
Numa altura em que, calcula Carlos Antunes, "a curva entrou em fase descendente", com o R (média a cinco dias) a chegar a 1". Numa "descida consistente, sendo que quando o R desce o número de casos desacelera". A incidência está agora nos 419/100 mil habitantes.
Numa leitura regional, Lisboa e Vale do Tejo (R de 0,95) e Algarve (0,93) atingiram o pico na semana passada e seguem em sentido descendente. O Centro também já passou o pico (R de 1,0) e "o Norte, com uma taxa de variação média diária negativa, está a passar" (1,06). No Alentejo, depois da "estabilização da passada semana, ressurgiu e o R está nos 1,12". Contudo, "com uma média de 120 casos/dia, não tem um peso significativo a nível nacional".
Em termos hospitalares, com a subida do limiar de camas, os intensivos estavam no passado domingo a 78%, com os internamentos ao nível mais alto desde meados de março (ver info).
Outros indicadores
O relatório dos peritos apresentado ao Governo em março passado definia ainda outras linhas vermelhas. Nomeadamente, o atraso na notificação dos casos confirmados (igual ou inferior a 10%) e o controlo do aparecimento e propagação de novas variantes. É a análise destas variáveis que permite medir o risco epidemiológico do país.
Mais recuperados
No passado domingo, de acordo com os dados da Direção-Geral da Saúde, contavam-se mais 1802 recuperados e menos 201 casos ativos. O Norte respondia por 43% dos novos 1610 casos notificados e Lisboa e Vale do Tejo por quase um terço. Internamentos e UCI estavam a níveis de meados de março.
Variantes
94,8%
Frequência relativa da variante delta nos casos avaliados pelo INSA entre 5 a 11 de julho.