CDS elege este domingo o presidente. Nuno Melo, o favorito, é apoiado por Portas e Cristas, mas foi outro antigo presidente a galvanizar o 29.º Congresso.
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As curiosas ironias da vida do CDS-PP cruzaram-se, este sábado, nas figuras de Nuno Melo e Manuel Monteiro. O eurodeputado, novo herdeiro da ala portista depois de Assunção Cristas, somou o apoio de peso do arqui-inimigo de Portas, Manuel Monteiro, que protagonizou o discurso mais galvanizador da noite. Nuno Melo chega ao dia da eleição, domingo, ainda mais favorito. Quer um CDS mais jovem, feminino, autárquico, de espetro alargado sem "purificação doutrinária".
Manuel Monteiro foi o mais notório vestígio do CDS-PP influente e mobilizador de outros tempos que se viu no 29.º Congresso do partido que termina domingo em Guimarães. Num longo e muito aplaudido discurso ao jeito de senador, Monteiro foi galvanizador e atirou em todas as direções para fora do partido. Dos "discursos fantasistas" do Chega, aos "liberais de pacotilha" da IL, passando pelo PS que "cede aos interesses de natureza financeira". Anunciou o apoio a Nuno Melo, que, "sendo deputado europeu", está "em melhores condições" para relançar o partido, considerou.
Este sábado, a partir das 22 horas, começa a votação das dez moções do congresso, mas o resultado só é conhecido a partir das duas horas da madrugada. A votação das moções é uma espécie de primeira volta para a eleição do presidente do partido, que acontece domingo de manhã. No entanto, Nuno Melo parecia colher o apoio da maioria dos congressistas.
No discurso de apresentação da moção, o eurodeputado mostrou vontade de "reconciliar o CDS com o seu passado", onde "democratas cristãos, conservadores e liberais se sentiam bem, porque eram complementares".
Assim, Nuno Melo quer acabar com o que chama de "processos autofágicos de purificação doutrinária" e conquistar apoios desertados, como os de António Pires de Lima, Adolfo Mesquita Nunes, Francisco Mendes da Silva ou João Condeixa, a quem convidou para regressarem ao partido.
Ao nível programático, Melo quer ser a voz "dos professores, contribuintes, pensionistas, forças de segurança, ex-combatentes e agricultores", mas também das "novas agendas", como a "sustentabilidade, energia, economia verde ou da transição digital".
Ao mesmo tempo, quer mais mulheres e jovens "em lugares de destaque" e assegurou que "há muitas Cecílias Meireles" no CDS. Refira-se que foi nas mulheres e nos jovens que o CDS perdeu mais votos nas legislativas de janeiro passado. Por fim, o eurodeputado pretende fazer dos autarcas "o maior ativo" do partido, assegurando-lhes representatividade por inerência nos órgãos nacionais.
Quem também esteve em plano de destaque foi o líder cessante, Francisco Rodrigues dos Santos, mas pelo discurso inflamado. Até começou por dizer que não queria "ajustar contas", mas pouco mais fez do que isso. Logo nos primeiros minutos, culpou os críticos internos a quem chamou de "associação de egoístas que se acham donos do partido" e que "não toleram que um estranho à sua tertúlia ascenda à liderança". Afirmou ainda que "os ditos notáveis" fizeram da bancada parlamentar "uma trincheira" contra a direção.
O congresso termina domingo com a presença já confirmada de Paulo Portas.