Professora premiada diz que as questões de género devem ser faladas em todas as escolas
A professora Claudia Mitchell recebe prémio do World Cultural Council, esta quarta-feira, na Universidade de Coimbra. Em entrevista ao JN, a docente explica como temas como a igualdade ou a diversidade de género podem e devem ser integrados nos currículos das escolas.
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Claudia Mitchell viajou por vários países. Como professora, contactou com muitos professores e estudantes de diferentes realidades. É natural do Canadá, mas já esteve na Serra Leoa, na África do Sul e na Etiópia a dar aulas sobre temas sensíveis em vários territórios como o VIH, a igualdade e a diversidade de género.
É uma das galardoadas deste ano do World Cultural Council e receberá o prémio mundial de educação José Vasconcelos, esta quarta-feira, na Universidade de Coimbra. Para a docente, todas as escolas devem incluir as questões de género e os direitos LGBT e das minorias nos currículos, incluindo as europeias.
"Sabemos que a Suécia é um dos países mais igualitários do Mundo, mas até eles têm de falar muito mais nas aulas sobre igualdade e diversidade de género", diz Claudia Mitchell ao JN, quando questionada sobre onde é que a educação europeia tem que melhorar.
Para a professora, que confessa não conhecer em detalhe o sistema educativo português, aprender sobre a igualdade de direitos entre homens e mulheres deve preocupar não só "as jovens raparigas, como também os rapazes e todas as famílias".
"Fartos da SIDA"
Muito do trabalho da professora da Faculdade de Educação da Universidade McGill, no Canadá, tem sido desenvolvido junto de comunidades de países em desenvolvimento, onde através de metodologias visuais como vídeos ou fotografias, consegue abordar temas fraturantes, seja a SIDA ou a violência de género. "Começa-se com uma pergunta: "como é que te sentes?", explica ao JN. No país de origem, Claudia Mitchell está a trabalhar com jovens de comunidades indígenas e a confrontá-los com a violência colonial.
A primeira abordagem nem sempre é fácil, já houve solavancos no caminho. Como quando, num país em desenvolvimento, tentou abordar a questão do VIH numa aula com jovens rapazes e foi "surpreendida" pela resposta. ""Nós já estamos fartos da SIDA", disseram-me". Não só aqueles estudantes estavam realmente infetados com o vírus, como estavam cansados de falar tanto sobre ele.
A professora sabe que a realidade hoje é muita diversa e merece ser também debatida nas aulas de todo o Mundo. "Temos de abordar a diversidade de género [onde se inclui a identidade e a expressão de género], o sexismo e o racismo", aponta. "E temos de perceber como podemos introduzir estes assuntos junto dos mais novos", conclui Claudia Mitchell, que dará esta terça-feira uma palestra em Coimbra.