Se até dia 10 o ministro da Educação não convocar nova reunião e não abandonar a intenção de parte dos docentes serem colocados por diretores, a Federação Nacional de Professores admite acampar durante três dias junto ao Ministério, em Lisboa.
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A Fenprof entregou esta terça-feira um abaixo-assinado com cerca de 45 mil assinaturas contra a possibilidade de os docentes serem colocados por diretores. A graduação profissional pode não ser perfeita, mas é o critério mais justo que evita "amiguismos", defendeu hoje à porta do Ministério, Mário Nogueira.
Confrontado pelos jornalistas com o desmentido do ministro sobre as intenções de os docentes passarem a ser recrutados por conselhos locais de diretores, o secretário-geral da Fenprof garante que aos dirigentes foram entregues dois documentos, nas reuniões que se realizaram com o ministro em setembro e outubro, disponibilizados no site da federação que confirmam essas intenções.
"Vamos dar mais uma semana de tolerância ao ministério e ao Governo e a partir daí ficaremos intolerantes", disse Nogueira.
A partir de dia 16 começam as greves distritais. A primeira será em Lisboa, a última marcada para dia 8 de fevereiro será no distrito do Porto. Pelos outros 16 dias, as greves serão por ordem alfabética, começando por Aveiro e terminando em Viseu. No final, para 11 de fevereiro, está agendada uma manifestação nacional.
A Fenprof revelou ter pedido em dezembro ao ministério as atas e áudios das reuniões para "esclarecer" a polémica sobre as mudanças pretendidas nos concursos. Se o ministério não enviar, Mário Nogueira admite recorrer aos tribunais para intimar João Costa a entregar as atas e as gravações.
Apelo à FNE
A delegação da Fenprof terá sido recebida pelos chefes de gabinte do ministro João Costa e do secretário de Estado, António Leite, revelou Nogueira à saída.
"Quisémos explicar o que traz os professores à rua", disse o líder, assegurando que terá recebido como primeira reação que as negociações serão retomadas "oportunamente" e que o processo ainda está no início. "Deixámos o calendário" de ações, a partir de agora o ministério é que tem de fazer as contas aos custos de "cada vez terem menos professores", insistiu.
Nogueira referiu que outras organizações sindicais têm ações agendadas e garantiu que a Fenprof "está com todos". Sem mencionar o nome da outra federação - FNE - sublinhou que todos os professores devem estar unidos dia 11 de fevereiro, na manifestação "e que se devem acabar com as querelas que só servem o ministério", defendeu.
"País a três tempos"
Centenas de docentes concentraram-se hoje frente ao ministério - do Norte, Centro e Algarve vieram oito autocarros.
Alexandre Fraguito, professor de Educação Musical, foium dos que viajou de Vila Real até Lisboa. Dá aulas desde 1992 e está no 4.º escalão da carreira. Além das alterações ao regime de concursos, os professores defendem o fim das vagas de acesso ao 5.º e 7.º escalões da carreira, as quotas na avaliação docente e a recuperação integral do tempo de serviço que esteve congelado.
"O país não está preparado para essa mudança de mentalidade", frisa Alexandre Fraguito, referindo-se à possibilidade de o recrutamento pelas escolas ser reforçado e serem criados mapas intermunicipais de pessoal. "A graduação profissional é o critério mais claro para todos", defende, alegando que as propostas em negociação foram apenas "o rastilho".
Patrocínio Cardoso é docente de Educação Especial há 43 anos. Nas últimas décadas, frisa ao JN, a luta dos professores tem conseguido "muitas conquistas" - aponta como exemplos o Estatuto da Carreira Docente, o fim da prova de acesso à profissão ou o fim dos professores titulares. E garante que a rejeição ao recrutamento pelos diretores é a próxima grande batalha. Mas não só, alerta: "é preciso eliminar as vagas para o 5.º e 7.º escalões e as quotas na avaliação que só causam atritos e divisões entre os professores".
A docente está no topo da carreira mas refere que um dos principais problemas é que a maioria dos docentes a dar aulas não vai ultrapassar o 6.º ou 7.º escalões. A seu lado na concentração, Alice Gomes, revela que é o seu caso: tem 60 anos, 40 de serviço e está no 6.º escalão.
"Há uma grande revolta entre os professores", por estes estrangulamentos na progressão da carreira e também pelas deslocações. "Andar de casa às costas é muito difícil", garante Patrocínio Cardoso. "Muitos divórcios acontecem e muitos filhos são adiados devido à precariedade da classe que força muitos a aceitarem horários a muitos quilómetros de casa sem dinheiro para sustentarem duas casas", lamenta.
"Os que sofrem mais são os familiares dos professores. Dedicamos a vida à escola e não somos valorizados", contesta Alice Gomes.
Os três professores criticam o facto de haver um "país a três tempos" por aos docentes das regiões autónomas ter sido recuperado todo o tempo de serviço congelado e por nos Açores e na Madeira não existirem vagas para progredir. A diferenciação permite a professores que se deslocaram do Continente para as ilhas ultrapassarem os colegas.