"Deixou de haver clima para falar de mudanças", diz Menezes. À espera das diretas de janeiro, algumas distritais mantêm ceticismo quanto ao líder.
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O líder do PSD, Rui Rio, ganhou novo fôlego com o resultado das autárquicas e já fala em vencer as legislativas de 2023. O sucesso foi reconhecido internamente: Miguel Pinto Luz, seu opositor nas diretas de janeiro de 2020, dá-lhe agora o benefício da dúvida (ler opinião); e Luís Filipe Menezes, antigo presidente do partido, diz que os críticos devem "dar margem de manobra para uma reeleição" de Rio nas diretas de janeiro. Mas há quem continue cético: Paulo Rangel e Jorge Moreira da Silva, apontados à sucessão, felicitaram Carlos Moedas pela vitória em Lisboa, mas não mencionaram Rui Rio.
Miguel Pinto Luz considera que o PSD "esteve à altura" do desafio autárquico, ainda que também ele não faça referência a Rui Rio. O reeleito vereador de Cascais, que antes criticava abertamente o líder laranja, é agora mais cauteloso. Pede que o partido abra um período de "discussão interna", exigindo que tenha "um novo rumo".
"Margem de manobra"
Também Luís Filipe Menezes refreou as críticas. Embora continue a considerar que o presidente laranja "não é um líder mobilizador e entusiasmante", reconheceu, no Facebook, que o resultado foi "suficientemente bom para dar margem de manobra para uma reeleição" em janeiro.
Menezes entende que, com o desfecho autárquico - o PSD somou mais 16 vitórias, num total de 114 câmaras - deixou de haver "clima para falar de mudanças". "Na política, como no futebol, as vitórias acalmam as claques", alegou, acrescentando que o "sucesso" do partido está sempre "em primeiro lugar".
O líder da Distrital de Coimbra do PSD, Paulo Leitão - que apostava noutro candidato - mostrou-se satisfeito com os resultados do partido. Leitão acredita numa vitória nas legislativas em 2023, até porque o Governo se tem "degradado" e não vai além da "mera gestão". Reconhece que o líder "atingiu os objetivos que colocou a si próprio" nas autárquicas, mas evita dizer se isso lhe dá mais condições para vencer as diretas por não querer "misturar" as coisas.
Pedro Alves, líder da Distrital de Viseu, também acredita que é possível ganhar as legislativas: não só o Governo está "desgastado", como a subida autárquica do PSD dá ao partido "uma maior capilaridade no terreno". Ainda assim, também Pedro Alves se mostra reticente quanto às diretas: "As coisas não se misturam", defende, lembrando que ainda não se sabe se haverá adversários a Rui Rio.
Rangel "esquece" líder
Paulo Cunha, ex-autarca de Famalicão, diz ser "inequívoco" que as autárquicas reforçaram Rio no plano interno. Também acredita no triunfo nas legislativas, mas diz que o facto de Rio não ter "boa interação" com os autarcas poderá ser um revés no futuro para o PSD.
As reações de Paulo Rangel e Jorge Moreira da Silva no Twitter são outra prova de que o resultado eleitoral veio baralhar as contas internas. Ambos deram os parabéns a Moedas e a "todos os candidatos", mas nenhum felicitou Rio.
Ao JN, Viriato Soromenho-Marques, catedrático de Filosofia Política, diz que é "legítimo" que Rio aponte às legislativas. Acredita que críticos como Rangel poderão ser acalmados se passarem a ter "mais palco". Face aos resultados, acredita que a Iniciativa Liberal tenderá a aproximar-se de PSD e CDS de modo a tentar um regresso da Direita ao poder, deixando o Chega mais isolado.