Outros partidos reagiram com desilusão às palavras de Marcelo, reclamando eleições, remodelação do Governo ou pelo menos a marcação de audiências com os partidos.
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A posição do presidente ficou aquém das expectativas de vários partidos, para quem deveria convocar eleições, exigir uma remodelação ou chamá-los a Belém. Já o PSD "respeita" a decisão de Marcelo e o anunciado "reforço da vigilância" sobre o Governo. "O presidente quer ser o garante da estabilidade e nós concordamos que deve haver estabilidade", reagiu o secretário-geral, Hugo Soares.
Para Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, Marcelo "devia ter ido mais além" e "terminado com este Governo". Rui Rocha, líder da IL, diz que "amarrou a avaliação deste seu mandato aos próximos tempos de Costa" e "são ambos corresponsáveis por tudo o que vier a acontecer".
Pelo PAN, Inês Sousa Real crê que o presidente deveria exigir uma remodelação, enquanto Rui Tavares, do Livre, esperava que tivesse chamado os partidos.
Durante o dia, todos evitaram falar de possíveis alianças. O secretário-geral-adjunto do PS, João Torres, abriu no domingo, na RTP3, a porta a uma nova geringonça quando questionado por Hugo Soares sobre se preferia esta solução ou viabilizar um Governo do PSD.
A ameaça de queda do Governo levou Luís Montenegro a apostar numa aproximação à IL. Após o almoço entre ambos, Rui Rocha garantiu que não haverá acordo pré-eleitoral. Ao JN, Hugo Soares reafirmou ontem que "o PSD não vai contribuir para aumentar a instabilidade política", embora sem rejeitar eleições, se essa fosse a vontade de Marcelo.
À Esquerda, o secretário-geral do PCP garantiu não temer legislativas. "Se formos para eleições, estamos preparados". Mas "essa questão não se coloca neste momento e está muito longe daquilo que a maioria do nosso povo entende que deve ser o caminho", considerou Paulo Raimundo.
quem beneficia?
Catarina Martins, que em breve deixa a liderança do BE, garantiu que o partido está "preparado para o que houver". Numa maioria absoluta, diz que a alternativa à dissolução do Parlamento é o Governo "se reinventar, reorganizar, mostrar um outro projeto ao país".
O politólogo Miguel Ângelo Rodrigues disse ao JN que "existe sempre a visão de que António Costa pode beneficiar de eleições antecipadas porque o Chega está em alta e o PSD ainda parece estar à procura de um rumo". Porém, "há algo que intriga: o PS nunca esteve tão baixo nas sondagens".
Por isso, crê que o caso em que Costa recusou demitir Galamba, afrontando Marcelo, "terá sido uma forma de fazer duas coisas". Por um lado, "consolidar a equipa", constantemente colocada em causa pela Oposição. Por outro, "fazer com que o presidente deixe de falar de dissolução". Nesta lógica, se ganhasse sem maioria absoluta, "poderia sempre responsabilizar Marcelo" pela falta de estabilidade governativa.
José Palmeira crê que "eleições não interessam hoje a ninguém, exceto porventura ao Chega". Com sondagens que colocam o PSD a subir pouco, o professor de Ciência Política nota que a Direita dependeria do Chega para ser poder. "BE e PCP também não teriam grande interesse". Já o PS iria "beneficiar" de uma estratégia de "vitimização", embora perdendo a maioria absoluta. "Costa parece estar a dizer que não tem medo de ir a eleições" e iria "sempre responsabilizar o presidente pela crise", acrescentou o politólogo.