Duas mil toneladas de pescado viajam numa operação única para a Companhia Nacional de Comércio de Bacalhau, fintando a crise nos transportes.
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Confiança. Foi o que valeu à Companhia Nacional de Comércio de Bacalhau (CNCB), na Gafanha da Nazaré, Ílhavo, para ultrapassar as dificuldades de transporte e fazer chegar a Portugal um navio com duas mil toneladas de bacalhau seco da Noruega a tempo do Natal, numa operação inédita por ser a "maior carga única de bacalhau do mesmo exportador para o mesmo cliente de que há memória".
A descrição é de Agostinho Gonçalves, presidente da CNCB, que gere a empresa com os filhos Simão e Hernâni. Só foi possível por haver "muita confiança", explica, sublinhando que mantém laços com o parceiro norueguês, a empresa Fjordlaks, "há 30 anos".
A operação demorou vários meses a ser preparada, depois da CNCB se aperceber de que a crise de transportes era tal que "não seria possível colocar a tempo toda esta quantidade em território nacional, se não encontrasse alternativa" à rodovia. Primeiro, vários navios asseguraram o transporte entre as fábricas da empresa norueguesa, para que a quantidade necessária estivesse no mesmo local. Depois, um navio russo deslocou-se de São Petersburgo para a Noruega, carregou mercadoria no valor de 20 milhões de euros e rumou ao porto de Aveiro. Dali, seguiu para as instalações da CNCB, onde os 80 funcionários tratam, agora, de prepará-lo para ser vendido e garantir uma consoada tradicional aos portugueses.
Seriam precisos "100 camiões", a via tradicional de transporte desta mercadoria, para trazer as duas mil toneladas, diz Simão Gonçalves. A solução decorre da "crise dos transportes. Era praticamente impossível arranjar camiões suficientes". Assim, alugaram "um navio em exclusivo, completamente fora da rota", que fez o transporte para "salvaguardar o Natal deste problema".
30% vendido para consoada
Apesar de algum bacalhau continuar a chegar de camião à empresa, não se compara às toneladas que vieram de barco. A carga via marítima foi decisiva para garantir que não vai faltar pescado.
O Natal é um dos pontos altos, representando 30% das vendas da CNCB. Transaciona, em média, 17 mil toneladas de bacalhau salgado seco por ano e tem 30% da quota de mercado de bacalhau em Portugal. Importa bacalhau inteiro congelado a bordo e em salgado verde, que transforma nas instalações, assim como bacalhau salgado seco. O pescado chega da Noruega, Islândia, Rússia e ilhas Faroé e fica quase todo no mercado nacional, havendo uma pequena parte que é exportado para o mercado da saudade (emigrantes).