A campanha eleitoral ficou marcada pela publicação de um sem número de sondagens. Mas valerá a pena levar um pouco mais a sério o último trabalho da Católica.
Corpo do artigo
"Estes resultados não preveem o que vai acontecer nas eleições - apenas retratam o atual posicionamento dos portugueses (que, entretanto, poderá ou não mudar)". O alerta é do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa (CESOP) e reflete a preocupação com leituras literais e muitas vezes precipitadas que se fazem destes estudos.
A cautela deve ser ainda maior quando se sabe que esta campanha eleitoral ficou marcada pela profusão de sondagens, incluindo a publicação de estudos diários (as chamadas tracking polls), difundidas pela RTP e pelo JN (Católica) e pela TVI e Público (Intercampus). Todas elas tinham em comum o facto de serem elaboradas através de contactos telefónicos e com um número de inquiridos relativamente limitados.
E é esta a grande diferença relativamente à sondagem que o JN divulgou nesta quinta-feira. Desta vez, os responsáveis do CESOP começaram por selecionar aleatoriamente um conjunto de 45 freguesias tipo (ou seja, em que os resultados se aproximaram, em eleições anteriores, da votação a nível nacional), para depois reduzirem o crivo até às freguesias em que a diferença não tenha sido superior a 1% face aos resultados nacionais.
Os inquiridores foram depois para o terreno (durante o fim-de-semana de 26 e 27 de setembro) e, em vez de pedirem aos cidadãos que verbalizassem a sua opção de voto (como acontece na sondagem telefónica), entregaram um boletim de voto que cada potencial eleitor preencheu e depositou numa urna. Uma das consequências imediatas deste procedimento é que diminuiu o número de recusas, bem como o número de indecisos.
Ainda assim, a melhor prova da fiabilidade (que não exatidão) deste tipo de estudos, é mesmo a comparação entre as projeções e os resultados do passado. Em junho de 2001, a Universidade Católica fez, para o JN, uma sondagem em tudo semelhante à que agora divulgamos. E se se tiver em linha de conta o alerta com que arranca este texto, pouco se poderá apontar à capacidade de previsão.
A sondagem acertou desde logo no vencedor (o PSD), bem como nas posições relativas de cada um dos principais partidos. Também nessa altura se descartou a hipótese de um empate técnico: PSD e PS apareceram com uma diferença de cinco pontos percentuais na sondagem (36 contra 31). O resultado final, no entanto, foi mais dilatado: o PSD contou 38,6% e o PS 28%.
As previsões do CESOP foram absolutamente certeiras quanto ao resultado do CDS e da CDU. Os primeiros conseguiram 11,7% (mais sete décimas do que apontava a sondagem), os segundos marcaram 7,9% (menos duas décimas do que o previsto). No caso do BE o desvio foi um pouco maior: a sondagem atribuía-lhe 7% e os bloquistas ficaram-se pelos 5,1%.