Segunda fase do processo de vacinação contra a covid-19 arrancou esta sexta-feira no pavilhão Multiusos de Gondomar. Projeto-piloto contempla a inoculação de 96 pessoas: 48 foram vacinadas na manhã desta sexta-feira e outras 48 vão tomar a primeira dose neste sábado. Na próxima semana, serão administradas mais 200 doses.
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Transformado num centro de saúde improvisado, as portas do pavilhão Multiusos de Gondomar abriram-se por volta das 8.30 horas. À entrada, a par da desinfeção das mãos e da medição da temperatura corporal, cada utente respondeu a um questionário sobre o seu estado de saúde. Só depois, eram encaminhados para um dos quatros postos de vacinação. Administrado o medicamento e de forma a monitorizar possíveis reações adversas, os idosos seguiam para uma sala de recobro, onde permaneceram 30 minutos.
"Está a ser uma experiência. Este projeto-piloto serve para testar as nossas capacidades e perceber se a logística está adequada ou não", explicou Maribel Fernandes, vogal do Conselho Clínico do Agrupamento de Centros de Saúde de Gondomar, adiantando que, esta sexta-feira, "correu tudo em conformidade" e não houve "nenhum paciente com reações adversas".
Deolinda Barbosa foi vacinada ao lado do marido, Albino Oliveira. Casados há mais de 60 anos, ambos tinham algumas reservas quanto à vacina. Foi a filha do casal, Alexandra Oliveira, quem lhes acalmou os medos.
Ainda assim, na chegada ao pavilhão, Deolinda Barbosa fez questão de esclarecer algumas dúvidas com os profissionais de saúde. Uma delas era saber qual o laboratório que produziu a vacina. "Tinha receio porque temos alguns problemas de saúde e também se ouve dizer que há vacinas que não são fiáveis", contou a mulher, de 83 anos, residente em S. Cosme, Gondomar.
O marido vê no medicamento uma "luz ao fundo do túnel". "A vacina dá-nos esperança que isto se resolva, embora não seja fácil. Não vejo sumiço para este vírus", lamentou Albino Oliveira.
A trabalhar numa escola, a filha do casal não escondeu o "alívio" por ver os pais vacinados. "É um sossego e um alívio saber que os mais velhos não foram esquecidos neste processo. Não estão completamente imunes ao vírus, mas estão mais protegidos", disse Alexandra Oliveira, enquanto ajudava os pais a encaminharem-se para a sala de recobro.
Coube à enfermeira Alexandra Campos, da Unidade de Saúde Pública de Gondomar, a tarefa de monitorizar os idosos após a vacinação. Entre outros sintomas, os sinais de alerta passam por reações cutâneas ou quebras de tensão. "Se tiver de acontecer alguma reação é durante estes 30 minutos que o organismo se manifesta. Por isso, vamos questionando as pessoas para saber se sentem algum sintoma", explicou a enfermeira.
A aguardar pela alta já se encontrava Evaristo Santos. Tem 83 anos e não teve nenhuma reação adversa. "A vacina era uma coisa que eu queria muito. A idade não perdoa e isto, ao menos, é uma prevenção", referiu ao JN.
A escassos metros estava Maria Rosa Moreira. "Nunca assisti a nada parecido com esta pandemia na minha vida. Tinha muito medo de apanhar esta doença. Agora estou mais segura", notou a mulher, de 85 anos.
Esta sexta-feira, ao longo da manhã, foram vacinados 48 idosos acima dos 80 anos de idade com comorbidades. Este sábado, serão vacinados mais 48 pessoas. Na próxima semana, o Agrupamento de Centros de Saúde de Gondomar espera receber mais 200 vacinas, que serão administradas em apenas dois dias. Na semana seguinte, Maribel Fernandes estima que possa chegar uma "quantidade suficiente para vacinar 250 pessoas por dia". Nessa altura, o pavilhão Multiusos passará a funcionar de segunda à sexta-feira, entre as 8.30 horas e às 19.30 horas.
Segundo o presidente da Câmara de Gondomar, a expectativa é que, dentro de um mês e meio, 13500 idosos estejam vacinados. A par das instalações, a Autarquia cedeu ainda dez funcionários para o apoio logístico. Em parceria com as Juntas de Freguesia, está também a ser estudada a disponibilização de transporte gratuito aos utentes para as deslocações até ao pavilhão.
"Esta é a nossa prioridade: ajudar a acabar com a pandemia. Hoje, foi um dia de emoção. A ideia é agora aumentar progressivamente a capacidade [de vacinação], de acordo com a disponibilidade de vacinas", frisou ao JN Marco Martins.