"Um dia bom e três maus" traduzem-se em quebras nas vendas que chegam aos 40% nos restaurantes, bares, barraquinhas da praia, gelados, bolas de berlim ou bolachas americanas.
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O tempo incerto está a afastar banhistas e a estragar os negócios que vivem da praia. Restaurantes com quebras de 40% e comerciantes que nem conseguem arrendar metade das barracas. Foi este o cenário visto na terça-feira pelo JN em várias praias do Norte e Centro. Entre o desânimo há ainda esperança que o resto de agosto, apesar da chuva desta semana, salve o verão.
"Qual verão? Não vejo nada!", atira António da Hora Bicho. Tem concessão de praia ali, mesmo ao lado do Diana Bar, em pleno centro da Póvoa de Varzim. O sol teima em vir "um dia por outro". A maioria das vezes, há nevoeiro, nortada, frio e até chuva. O mau tempo está "a dar cabo de um negócio" que "nem aos domingos se safa, tenho ficado com metade das barracas vazias", explica o homem de 63 anos. Junho foi fraco. Julho não foi melhor. "Um dia bom e três maus", diz conformado.
Cheio? Ao domingo e sabe Deus!
Três quilómetros a sul, na praia dos Barcos, nas Caxinas, Luís Ramos não está melhor: "Se a manhã está boa, à tarde vem nortada ou encobre. Ou então, é nevoeiro de manhã e só abre à tarde". Por esta altura, noutros anos, "era tudo cheio". Agora, "é ao domingo e sabe Deus". "As pessoas já não ficam na cidade. Vão e vêm, controlam o tempo pela Internet e, se está mau, ficam em casa", explica quem tem o bar de praia há 24 anos.
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No restaurante Barra Mar, na praia da Barra, Ílhavo, Vítor Rocha estima uma quebra de "40%" nas vendas devido às condições climatéricas. Entre "dias de chuva, orvalho, nevoeiro, vento e temperaturas baixas, o negócio ficou estragado". Vítor já perdeu a conta aos dias em que viu os turistas arrumarem as coisas e irem embora do areal pouco depois de chegarem, e teme que agosto seja mais do mesmo. "O negócio nas praias é sazonal, de junho a setembro. Ganhamos nesta altura para o resto do ano", diz enquanto espreita o céu nublado.
Na barra o tempo é que manda
O areal é a praia de Carlos Moreira, 59 anos, o mais carismático vendedor de bolacha americana da Barra. "O tempo é que manda. Se está bom, as praias estão cheias e vende-se", mas "este verão está mau para o negócio", confirma.
Na marginal da Barra, Joel Moreira vai fazendo tripas aos poucos clientes da fila. Diz que não se lembra de um ano "tão mau" para o negócio. "Temos metade dos clientes de um agosto normal", avança o colega José Moreira.
Já não eram muitos, mas os pingos de chuva afugentaram os que ontem à tarde estavam na praia em Vila Praia de Âncora. Uns saíam com as toalhas na cabeça, outros de guarda-chuva. Os dois concessionários da praia olhavam desalentados o areal. "Está péssimo. Estávamos à espera do agosto. A semana que mais se trabalha é a do feriado 15, mas se continuar assim, não vejo jeito", diz Gabriel Pereira, um dos concessionários.
A piorar a situação, acrescenta, está "o fenómeno do telemóvel, em que as pessoas vêm o tempo na Internet e já nem vêm". Desde o arrendar de barracas, à venda de gelados e bebidas, as quebras, diz Gabriel, "andam nos 25%" em relação a anos anteriores. "Isto já deu o que tinha a dar", sentencia António Presa, outro concessionário da praia deserta.
TURISMO
80%
Taxa de ocupação esperada por 57% da hotelaria nacional, de acordo com o inquérito da Associação da Hotelaria de Portugal sobre as "Perspetivas verão 2019".
Cresceu até maio
Até maio, mês das mais recentes informações estatísticas do INE, a procura turística em Portugal continuou a crescer, à semelhança dos últimos anos.
Oferta diversa
As entidades do setor turístico ressaltam que Portugal tem uma oferta cultural diversificada, o que permite criar alternativas quando o tempo está menos quente.
