São mais 1,5ºC nos últimos 50 anos. Já a precipitação diminuiu 20 milímetros a cada dez anos. Vem aí um verão mais quente, sobretudo no interior.
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Finda uma semana de calor atípico para maio, o tempo voltou a ser tema de conversa entre os portugueses. Mas importa olhar ao clima. E os dados mostram um cenário desanimador para as gerações mais novas. Em Portugal, a temperatura média está a subir ao ritmo de 0,3 graus Celsius por década. Enquanto a precipitação diminuiu 20 milímetros em igual período. Numa altura em que o país se prepara para ir a banhos, o verão avizinha-se um pouco mais quente (+0,2º a +0,5ºC), sobretudo na faixa interior do território. Bom tempo, num mau clima.
De acordo com a análise feita pelo Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA) para o JN, "desde meados dos anos 70, a temperatura média subiu em todas as regiões de Portugal a uma taxa de cerca de 0,3ºC/década". Se fizermos as contas a 50 anos, "estamos a falar de um aumento de 1,5 ºC, é brutal", frisa ao JN Filipe Duarte Santos, especialista de renome internacional em alterações climáticas.
Os dados climatológicos do IPMA mostram ainda que, desde 1931, oito dos dez anos mais quentes ocorreram já depois de 1990. Sendo que 1997 foi o mais quente, seguindo-se-lhe 2017. Com o planeta a aquecer - e com uma subida da temperatura em +1,4ºC na região do Mediterrâneo desde a era pré-industrial, acima da média global -, os fenómenos extremos tornam-se mais frequentes.
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Segundo os climatologistas do IPMA, "verifica-se uma tendência para mais ondas de calor e com maior duração, mais noites e dias muito quentes e menos dias e noites frias". Em Portugal, há registo de quatro ondas de calor (1981, 1991, 2003 e 2013), com o excesso de óbitos a oscilar entre os mil e os dois mil. O ano de 2003 bate recordes: 1953 óbitos em excesso e 425 mil hectares ardidos.
Em sentido inverso, verifica-se um decréscimo dos valores anuais de precipitação, calculados pelo IPMA em menos 20 milímetros por década. Sendo que, sublinham, os últimos 20 anos foram "particularmente pouco chuvosos". Seis dos dez anos mais secos aconteceram depois de 2000, com a memória a reter-se em 2005, quando o país viveu a pior seca de que há memória, no verão mais quente dos últimos 75 anos.
Com exceção do outono, a redução de precipitação ocorre em todas as estações, sendo mais significativa na primavera. "A intensidade e frequência de eventos de precipitação extrema tem vindo a aumentar", sendo exemplo recente disso as inundações, em dezembro, no Baixo Mondego.
Verão mais quente no interior
Em véspera de abertura da época balnear, os portugueses podem contar com um junho, julho e agosto mais quentes. As previsões do IPMA apontam para uma anomalia positiva da temperatura média de 0,25 a 0,5 ºC sobre a faixa interior do território, que se estende também ao litoral sul no mês que amanhã se inicia. O calor dos últimos dias de maio está de passagem e a chuva de regresso.
ARS ativam planos de contingência
A Direção-Geral da Saúde (DGS) deu já indicações "a todas as administrações regionais de Saúde e todos os serviços locais" para "ativarem os respetivos "planos de Contingência de Saúde Sazonal - Módulo Verão". Segundo fonte da DGS, no contexto da atual pandemia, os planos do ano passado "serão de novo aplicados na época 2020 (1 de maio a 30 de setembro), salvaguardando qualquer necessidade de adaptação para a boa execução" dos mesmos. Nos referidos planos acautelam-se, a título de exemplo, stocks de medicamentos, horários de consultas ou camas para internamento na eventualidade de uma onda de calor.