"Cardeal-patriarca de Lisboa queria dizer que não tinha autoridade para suspender padres"
O bispo-auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar, explicou, ao início desta tarde de quinta-feira, que quando o cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, disse que "não tinha autoridade para suspender padres, estava a usar uma terminologia formal, que queria dizer que não tinha autoridade para suspender". E defendeu que deve ser a Igreja a indemnizar as vítimas, caso os padres abusadores não tenham condições para o fazer.
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"O Patriarca foi questionado sobre a questão da suspensão e fez uma explicação que gerou confusão. Observa-se, frequentemente, que ainda está em uso a antiga terminologia de suspensão que significa uma pena. E nesta fase ainda não pode ser imposta uma pena. A forma correta para designar tal disposição será a proibição do exercício público do Ministério", justificou D. Américo Aguiar no almoço-debate "Jovens sonhadores, lutadores e poetas", organizado pelo International Club of Portugal, que decorre no hotel Sheraton, em Lisboa.
"Se queremos estar num Estado de Direito e num quadro de paz jurídica, temos de usar as expressões certas, não fazer uma conclusão. Isto não é para desculpar ninguém", esclareceu ainda, numa pequena intervenção sobre os abusos sexuais na Igreja.
Questionado pelo público sobre a temática disse que "vamos tentar ser exemplares no tratamento das vítimas". "Acreditem e deem o benefício da dúvida".
No final do debate, em declarações aos jornalistas, D. Américo Aguiar anunciou que a Comissão Diocesana de Lisboa receberá, ainda esta quinta-feira, a lista dos padres acusados de abusos sexuais e, nos próximos dias, revelará o que vai fazer.
"Se a Comissão disser que as pessoas devem ser afastadas, elas serão. Isto quer dizer que serão suspensas", prometeu, sem querer dizer quantos são os membros da Igreja Católica acusados de abusos sexuais na Diocese de Lisboa.
Questionado sobre a falta de decisões da maioria das comissões diocesanas no que diz respeito ao afastamento dos sacerdotes, o bispo-auxiliar de Lisboa disse que será uma questão de "timing" de cada diocese e que estas decisões serão tomadas antes da Jornada Mundial da Juventude.
"É a hora da justiça, da verdade e da ação"
"Demos um ano e tal de tempo para dar voz ao silêncio [o nome do relatório da comissão técnica independente]. Terminou esse tempo, nasceu um relatório. E agora é o momento da justiça, da verdade e da ação. E é isso que temos de fazer", afirmou, repetindo esta ideia.
"O Papa Francisco disse que não basta pedir perdão, por isso esta é a hora da justiça, da verdade e da ação. E tudo o que deve ser feito para respeitar as vítimas e corresponder aquilo que são os seus direitos e expectativas numa coisa que não vai resolver nem sarar os seus sofrimentos, mas vai ser um pouquinho paliativo, tudo o que pudermos fazer devemos fazer", defendeu.
D. Américo Aguiar defendeu ainda a indemnização das vítimas de abusos sexuais, pagas pela Igreja, ao contrário do patriarca D. Manuel Clemente , que disse que falar nisso nestes momento, em que ainda ninguém as pediu, "é um insulto".
"Eu defendo que se a pessoa condenada não tiver condições para cumprir a indemnização a que foi condenada, a Igreja o deve suprir, não como favor mas como sua obrigação", disse Américo Aguiar.