Governo propôs redução da temperatura da água para os 26ºC, contudo o conforto dos utentes está a preocupar os municípios.
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À recomendação, feita pelo Governo, de regular a temperatura da água das piscinas cobertas para 26ºC, os municípios responderam com diversas estratégias. Há os que já avançaram com a redução da temperatura, levando, nalguns casos, a aconselharem os utentes a utilizarem fatos térmicos. Os que ainda estão a estudar o assunto, preocupados com o bem-estar dos munícipes, numa infraestrutura muito utilizada por idosos, por crianças e por bebés. E os que afastaram de todo a sugestão, ou porque procederam já a investimentos de maximização de eficiência energética ou porque lhes preocupa o conforto térmico dos utilizadores.
Em Boticas (-2ºC), Vila Verde, Vagos (-0,5ºC), Macedo de Cavaleiros, Alcochete e Miranda do Douro foi já posta em prática a recomendação. Sendo que algumas câmaras, como Vila do Conde, Boticas, Moita, Sintra e Barcelos, aconselham mesmo os utilizadores, dentro das suas possibilidades e mediante o desconforto que possam sentir, a utilizarem fatos térmicos. Porque, como explica ao JN a presidente de Miranda do Douro, "já há reclamações dos utilizadores". Segundo Helena Barril, "a temperatura do ar ainda não baixou e não dá para aferir o que é confortável e a capacidade de resistência das pessoas".
Razão pela qual há câmaras a reduzirem gradualmente, para aferirem de que forma os utentes se adaptam, como Anadia, Barcelos, Moita (piscina de Alhos Vedros baixou para os 27ºC), Mértola (para os 28ºC), Odivelas (para os 28,5ºC) ou Póvoa de Varzim (piscina olímpica entre os 27º e os 28º). Em Vila do Conde, a redução das temperaturas "sempre que possível" é adotada. No entanto, sublinha que estas medidas "obrigam a uma sensibilidade e gestão responsável", atendendo ao perfil dos públicos específicos que frequentam as piscinas municipais.
Fecho em Albergaria
Mais de uma dezena de autarquias, contactadas pelo JN, admite estar a estudar a recomendação, integrada num plano de eficiência energética mais amplo. Que terá de pôr, em primeiro lugar, a saúde e o bem-estar dos seus utilizadores. "Vamos fazer ajustamentos, mas temos de ver até onde podemos ir de forma a garantir o conforto dos utilizadores" e "não vamos querer que vistam fatos térmicos, até porque devem ser caros", comenta Hernâni Dias, presidente da Câmara de Bragança. Mesão Frio, Murça, Santo Tirso, S. João da Pesqueira, Viseu, Ponte de Lima, Penafiel, Guimarães, Oliveira do Bairro, Oeiras, Loures, Felgueiras e Barreiro estão a ponderar a medida.
Entre os municípios que optaram por não reduzir os termómetros para os 26ºC, a maioria ouvida pelo JN procedeu já a investimentos que permitiram baixar a fatura, salvaguardando o bem-estar dos utilizadores das piscinas. Foi o caso das câmaras de Peso da Régua, Aljustrel, Porto ou Sesimbra, que apostaram em painéis fotovoltaicos. Em Sesimbra, onde a temperatura durante a semana está nos 28ºC, se "em 2019, era feita uma encomenda de gás duas vezes por mês", neste ano, em oito meses, "foram apenas feitas duas encomendas". Já o Porto descarta a recomendação devido à implementação de "outras estratégias" que considera "mais eficazes na diminuição do consumo energético sem causar desconforto nos utentes das piscinas".
Bem-estar esse que preocupa os municípios de Vila Real, Beja, Paços de Ferreira e Gaia. Se, por um lado, como explica a Câmara de Vila Real, "não seria possível fazer variar a temperatura da água consoante a tipologia de utilização", porque a flutuação sai mais cara. Por outro lado, prossegue Vila Nova de Gaia, os públicos são distintos. "É importante a consciência de que, no mínimo, as atividades de hidroterapia, a natação para bebés, as sessões personalizadas de hidroterapia serão impossíveis de manter, uma vez que a temperatura de 26ºC não garante o bem-estar dos utilizadores e/ou os efeitos terapêuticos pretendidos", explicam.
Em S. Pedro do Sul e Sintra, a temperatura está em linha com os 26ºC ; em Mogadouro, "ronda a recomendada"; em Vouzela, tem-se implementado "uma política de redução de temperaturas de água" e a piscina fecha durante a manhã; enquanto, em Braga, o tanque de competição/pré-competição está nos 27ºC e o de hidroterapia/natação sénior e bebés está nos 30ºC. A Câmara de Águeda "já implementa medidas de eficiência energética e hídrica" e Viana do Castelo não segue a recomendação.
De referir que o Município de Albergaria-a-Velha optou mesmo por encerrar as suas três piscinas no final de outubro devido à escalada dos custos energéticos e está renegociar os contratos de gás para poder reabri-las. Já as de Vila Pouca de Aguiar, Mangualde e Vieira do Minho estão a ser alvo de obras de beneficiação energética.
Poupança energética
Póvoa de Varzim
Fatura do gás sobe mais de 500%
Na Varzim Lazer, empresa municipal que gere as piscinas da Póvoa de Varzim, foi já aberto concurso para fornecimento de gás para o próximo ano, com a fatura a "passar de 60 mil euros/ano para 400 mil euros/ano", refere a autarquia.
Poupança
Redução nos duches
Inúmeras câmaras identificaram ao JN, entre as várias medidas de poupança energética, a redução do tempo dos banhos/duches. São exemplos disso Vila do Conde, Vila Real e São Pedro do Sul. A Câmara de Peso da Régua baixou a temperatura da água quente sanitária de 80 para 65 graus. E em municípios como Mértola, Vila Verde, Braga, Águeda, Sintra ou Alcochete, apostou-se, também, na regulação do caudal das torneiras.
Investimento
Aposta na biomassa
Viseu, que admite "implementar rapidamente" a redução da temperatura da água, instalou "já caldeiras de biomassa como sistema principal de aquecimento da água das piscinas municipais". Um investimento que está a ser estudado, também, pelo Município de Oeiras.
Eletricidade
Lâmpadas LED e climatização
Uma medida transversal nas mais de três dezenas de autarquias contactadas pelo JN é a aposta em iluminação com tecnologia LED. Nuns casos investimentos já feitos, noutros em curso. Em Boticas, por exemplo, a "substituição das antigas luminárias por lâmpadas LED traduziu-se numa poupança anual de cerca de 50 mil euros", reduzindo-se, "em praticamente 50%, o consumo de energia na iluminação
pública".
Festividades
Natal menos iluminado
Já sabido, também, é que um pouco por todo o país as tradicionais luzes de Natal que enchem as ruas por altura das festividades serão mais contidas. E o seu horário de utilização reduzido.
Paradigma
Investir em painéis solares
É uma mudança de paradigma já em curso: investir em painéis solares com vista a reduzir os custos energéticos. Ainda no que às piscinas concerne, muitos são, também, os municípios a utilizar mantas térmicas , como Viseu,´Mértola, Porto ou Alcochete.
* com A.T.M., M.F., E.P., A.L., Z.C., R.D., T.C., J.R.F., A.C.C., A.P.F., G.L. e S.F