A organização do ano letivo em dois semestres tem cada vez mais "adeptos".
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São já cerca de 330 mil alunos (quase um terço do total) que estudam de acordo com este modelo que reestrutura o funcionamento das escolas, da avaliação ao serviço docente, mas não só. O impacto vai além dos portões dos estabelecimentos: os pais, por exemplo, têm de se adaptar a novos períodos de pausas letivas, tal como centros de atividades de tempos livres (ATL) ou atividades de enriquecimento curricular (AEC). É uma revolução em curso sem imposição legal.
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A semestralização arrancou no ano letivo 2019/ 2020 em dez agrupamentos. No ano passado, já eram 95: 55 através de planos de inovação, 40 situavam-se nos quatro municípios que adotaram o modelo em todas as escolas: São João da Madeira, Amadora, Odivelas e Almada. Este ano, os semestres são apontados no plano de recuperação das aprendizagens como uma possível estratégia que requer concertação concelhia por implicar alterações na gestão dos períodos de férias, nomeadamente das famílias, e poder exigir ajustes na rede de transportes ou na coordenação de centros de atividades de tempos livres, por exemplo. Mais um agrupamento (56 no total) funciona em semestres pelos planos de inovação e mais 45 municípios, perfazendo um total de 49. E já há mais a preparar a mudança - em Gaia, por exemplo, "boa parte" dos 18 agrupamentos e secundária vão apresentar, "em breve", a proposta à câmara, garante o presidente da Associação Nacional de Diretores (ANDAEP).
"Está a ganhar cada vez mais adeptos entusiastas", frisa Filinto Lima. A organização em semestres dá mais tempo aos alunos para recuperarem as classificações no segundo semestre, o que, por vezes, não conseguem num terceiro período curto. Assim, acredita o presidente da ANDAEP, "vão estar sempre motivados". O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, afasta, para já, a possibilidade de o modelo ser generalizado (ler opinião na página seguinte).
Mais tempo para aprender
A diretora do agrupamento de Oliveira de Azeméis confirma as expectativas de Filinto Lima. Adília Cruz rendeu-se à semestralização enquanto liderou o agrupamento de Arouca. Assim que se mudou, no ano passado, para Oliveira de Azeméis defendeu a mudança aos outros quatro agrupamentos daquele concelho. A diretora admite que os resultados não melhoram milagrosamente só por esta mudança, mas garante que este modelo "dá mais tempo à aprendizagem e à avaliação".
56 agrupamentos funcionam em dois semestres através do seus planos de inovação pedagógica, que lhes confere autonomia para gerir 25% do currículo.
"O que mais senti [em Arouca e, agora, em Oliveira de Azeméis] é a mudança de práticas em sala de aula. Exige mais trabalho colaborativo entre os professores, porém permite uma planificação muito mais assertiva e dar resposta a todos, o que não é possível em períodos curtos. E os alunos não se sentem tão pressionados o que se reflete no seu trabalho", defende. Todos começam por estranhar a falta das três pautas, mas as duas avaliações formativas (intercalares) e as duas sumativas (pautas) permitem diversificar os instrumentos de avaliação.
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O presidente da Câmara de Valongo não vê na exigência de consenso um obstáculo à adesão e entende que é uma "oportunidade" que deve ser aproveitada. Em Valongo, há entre 13 a 14 mil alunos nos seis agrupamentos. "É dos concelhos mais populosos da Área Metropolitana do Porto e isso não nos demoveu. Claro que é um desafio e não é fácil. Não acontece por se estalar os dedos, exige trabalho diário", sublinha José Manuel Ribeiro. O balanço é positivo e a mudança veio para ficar, frisa.
Tal como em Oliveira de Azeméis, uma boa experiência anterior [um dos agrupamentos já funcionava em semestres] facilitou o alargamento a todas as escolas do concelho. O município teve de fazer ajustes ao nível dos transportes, funcionários ou AEC. No entanto, o autarca prefere sublinhar, à semelhança dos diretores, o "equilíbrio" temporal entre os dois semestres e o facto dos períodos de avaliação sumativa não coincidirem com as épocas do Natal e Páscoa. "A grande vantagem é que os alunos conseguem efetivamente recuperar no segundo semestre", insiste.
Mais pausas
O número de dias de aulas é o mesmo de uma organização em trimestres, mas, com semestres, os alunos têm mais pausas, apesar de mais curtas: além do Carnaval, uma semana em novembro (para avaliação intercalar), no Natal, no final do primeiro semestre e na Páscoa.
Menos pautas
Regra geral, neste modelo, as escolas fazem duas pautas, mas há casos de quem só faça uma. A prioridade é dada à avaliação formativa: contínua durante o ano, com objetivo de diagnóstico através de diversos instrumentos como testes, trabalhos, projetos ou apresentações orais.