Os dias vão passando negros e chuvosos, como se a primavera antecipada que tivemos no início do ano tivesse dado o lugar ao inverno que chegou quando os sons da guerra ecoaram com estrondo num Mundo ainda a recuperar de um inimigo invisível, em forma de vírus. É um abalo estrondoso, com epicentro em Mariupol, cidade mártir onde, sob os escombros de edifícios, se descobrem dia a dia mais exemplos de um horror que parece não ter fim.
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Mariupol era, até há um mês, uma cidade próspera, dizem os afortunados que de lá conseguiram escapar. Não teria a riqueza e a pompa de muitas metrópoles europeias, mas o essencial para que os seus habitantes se sentissem felizes. Dessa felicidade não resta nada.
Soube-se hoje que cerca de 300 pessoas terão morrido no teatro de Mariupol, bombardeado pela força aérea russa a 16 de março, quando centenas de pessoas estavam ali abrigadas. A cidade portuária está, mais do que outras, vergada à violência impiedosa dos mísseis russos. Fala-se numa vala comum com mais de 200 corpos e execuções sumárias dos que tentam fugir de automóvel.
São imagens que ficarão para sempre para quem as viu e, sobretudo, para quem as protagonizou. Um dia, quando a paz voltar, Mariupol será um lugar de visitação e reflexão, como é hoje Auschwitz-Birkenau, na vizinha Polónia, símbolo do horror nazi que varreu a Europa há 80 anos.
Do lado russo esta agressão a um país soberano parece continuar a ter outra leitura. Basta ouvir o ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, que esta esta sexta-feira lançou culpas para o outro lado e acusou o Ocidente de ter declarado uma "guerra total" à Rússia com o objetivo de "destruir" a sua economia e o país.
Aos olhos do Mundo (quase todo) são declarações difíceis de encaixar. Ainda assim, o inimigo é poderoso e há consciência coletiva disso. E esta é a única razão para que o Ocidente resista a uma confrontação direta, optando pelas sanções e boicotes à Rússia. E, ainda assim, Putin sente-se injustiçado. Esta sexta-feira veio comparar a decisão de vários países ocidentais de suspenderem a atuação de artistas e desprogramarem eventos culturais russos com as fogueiras realizadas pelos nazis, nomeadamente para queimar livros.
A verdade é que o poderio russo, sobretudo nuclear, faz tremer qualquer outra solução mais radical. Se um Putin desesperado, cada vez mais isolado, um dia avançasse por esse caminho, estaria a confirmar-se a metáfora de Albert Einstein: "Não sei com que armas a Terceira Guerra Mundial será travada, mas a Quarta sim: com paus e pedras." Porque do "Mundo anterior nada restará...
E esta sexta-feira Joe Biden foi à Polónia inteirar-se no terreno do horror. Mas não ficou totalmente satisfeito. Disse-se mesmo dececionado por não poder atravessar a fronteira com a Ucrânia e avaliar pessoalmente o impacto da guerra, por motivos de segurança.
A paz é, 30 dias depois, uma miragem. Também esta sexta-feira o Papa consagrou a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria. A fé a tentar superar a vontade dos homens. Decisivo seria o empurrão da China, mas isso parece longínquo. O presidente chinês, Xi Jinping, disse esta sexta-feira, numa conversa por telefone com o homólogo britânico, Boris Johnson, que a comunidade internacional deve "criar as condições certas" para resolver o conflito na Ucrânia e "promover negociações de paz com sinceridade".
Já por cá, a ameaça vem dos Açores, devido à crise sísmica em São Jorge.. As viagens de avião e de barco para a ilha de São Jorge foram reforçadas, devido ao aumento da procura da população que pretendia sair da ilha, estando previstos novos reforços de necessário.
Portugal, outrora designado como "este cantinho à beira mar plantado", sofre também os efeitos da sua condição periférica. Sempre dependente de Espanha, a nível de abastecimento. E é do país vizinho que parece vir outra ameaça: a greve dos camionistas. Veja o vídeo: Um grupo de pescadores espanhóis provocou o incêndio e bloqueou a circulação na Ponte do Guadiana, com o intuito de impedir lojas de comprarem peixe nos mercados portugueses, furando o protesto em Espanha contra o aumento do preço dos combustíveis.
E, finalmente, por ser sexta-feira, hoje é dia de números da covid-19. O relatório de monitorização mostra que os casos positivos estão a aumentar nas faixas etárias a partir dos 60 anos. A mortalidade está nos 25,3 óbitos em 14 dias por um milhão de habitantes, ou seja, acima do limiar definido pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC).
Bom fim de semana e não se esqueça que na madrugada de domingo muda a hora. Terá menos uma hora para dormir. Oxalá o calendário da guerra também mudasse.