A violência contra ex-companheiras, contra menores de idade, que não pediram para vir ao mundo, ou contra a paciência de esperar horas em filas das urgências hospitalares. Tudo pode ser muito agreste, salvas as devidas distâncias. Nem os festejos do São João apagam os acontecimentos mais trágicos da semana.
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O caso mais chocante marcou o arranque da semana. Jéssica, menina de três anos, morreu às mãos de uma ama. A mãe devia 400 euros aos suspeitos do crime. Terá sido para forçar a mulher a pagar esta dívida que os três detidos - a mulher que lhe emprestou o dinheiro, a filha e o genro - raptaram a criança e a espancaram, deixando-a moribunda. Quanto vale uma vida?
Por trás de cada vítima há um nome. Sara Barros foi a 14.ª mulher a ser morta em 2022 por um companheiro ou ex-companheiro e a segunda a ser baleada na cabeça esta semana por um ex-marido. Sara perdeu a vida na terça-feira. Ficámos a saber esta quinta-feira que foi colocado em prisão preventiva o homem que baleou a ex-companheira na cabeça na segunda-feira, em Soalhães, no Marco de Canaveses. A vítima está ainda hospitalizada em estado crítico.
Com um grau de violência bem distinto, o caos em várias urgências hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS), no período pós-pandemia, não deixa de causar incómodo, aos utentes e ao Governo. O Ministério da Saúde já tentou avançar com um plano de contingência, apostando no pagamento de horas extraordinárias. "Sofre de muitas limitações, que a podem tornar ineficaz e somos céticos sobre essa medida para combater o problema no serviço de urgência", afirmou a Federação Nacional dos Médicos (FNAM). "Uma coisa é certa: o senhor primeiro-ministro reconheceu que há problemas estruturais, graves, situações inaceitáveis. Eu acho que é muito importante quando os governantes percebem que as coisas não estão bem", sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa.
Com martelos, mas sem violência, os fãs do São João podem esquecer um pouco as agruras da vida na noite mais longa do Porto e arredores. O "Jornal de Notícias" transmite em direto o fogo de artifício da festa, a partir da meia noite. A edição impressa desta sexta-feira vai estar mais cedo nas bancas.
Para pacificar as almas dos crentes e eventualmente lograr algumas conversões, a Igreja portuguesa garantiu esta quinta-feira que o Papa vem a Portugal no próximo ano, aconteça o que acontecer. "Não se preocupem. O Papa vem, de cadeira de rodas, de maca, de padiola, vem", disse Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa.
Rezemos para que a onda de violência pós-pandémica tenha abrandado quando o Sumo Pontífice aterrar em Portugal em 2023. E, já agora, seria desejável que a paz fosse alcançada na Ucrânia muito antes dessa data. A violência mais próxima de todos nós, nomeadamente a doméstica, faz-nos esquecer que a guerra, mesmo que longíncua, é a suprema maldade. E, no entanto, ela move-se há quatro meses, apesar de uma progressiva dessensibilização de todos nós. Bastar ler com atenção o noticiário que o JN vai produzindo diariamente sobre o conflito.