Sem saneamento, sem transportes, sem casas: o Interior aqui tão perto
Atiães, a dez minutos de Braga, não tem saneamento, a rede viária no miolo da aldeia é fraca, tem quilómetros em terra batida. Em Sandim de Gaia, aos pés do Porto, escutam-se queixas sobre transportes, falta de habitação, falta de empregos. Em Guilhofrei, Vieira do Minho, ainda se vive com fossas sépticas e sem posto médico. São Jacinto, com vista para Aveiro, depende de um ferry-boat, que quando avaria é uma dor de cabeça. Souselas, na ponta norte de Coimbra, não tem posto da GNR e teve de lutar por verbas para fazer obra. Os fregueses, rodeados por outdoors políticos por todo o lado, de rotundas a postes de eletricidade, reclamam com desembaraço. Às portas de cidades. Tão perto e tão longe.
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Atiães, aldeia encaixada entre Braga e Vila Verde, 480 eleitores, 547 habitantes, 3,6 quilómetros quadrados, não tem saneamento. "Tínhamos condições para sermos uma terra de sonho, um dormitório de qualidade, de Natureza, se tivéssemos planeamento urbanístico", aponta Samuel Estrada, presidente da Junta independente. Não é o caso, nota. O saneamento ainda não chegou, as obras para a primeira estrutura começaram há cinco meses, a empreitada prossegue, ainda sem qualquer ligação. Há 30 anos, o autarca advogado, reeleito domingo passado, recorda que houve gente que cedeu terrenos sem pedir nada em troca com a perspetiva de ter saneamento. Olha para o outro lado da rua, está uma casa em construção, informa que o dono poderá ter de esperar um ano por licença para a empreitada sem ligação de esgotos. Ali, perto do edifício da Junta de Freguesia, com cravo desenhado na fachada, igreja em frente, parque infantil e campo de futebol nas traseiras, resume tudo numa frase que repete de maneiras diferentes. "Não temos o que nos falta e temos de aceitar o que não queremos." "Não nos dão o que queremos e querem dar-nos o que não queremos." É o caso da zona industrial.