"Pai aos 50" é um espaço de opinião semanal assinado pelo escritor Joel Neto.
Corpo do artigo
Ainda há pouco foi assim. Estávamos no Delman, a rir da alternância entre sol e chuva como só se pode rir se é domingo à tarde e a esplanada coberta, quando ele anunciou:
- Quero ir fazer xixi.
Tínhamos vindo da casa de banho não havia cinco minutos, incluindo muda de fralda, mas eu pousei os talheres com a mesma bonomia das primeiras duas vezes. Nesta fase, qualquer interesse que ele mostre em usar a casa de banho, ir passear à casa de banho ou organizar uma rave party na casa de banho deve ser estimulado. De modo que lhe dei a mão, com um esgar que pretendia mostrar-lhe solidariedade com a aflição, e lá fomos outra vez.
- O papai também faz! - ordenou.
E eu, diligente, baixei-lhe as calças, tirei-lhe a fralda, sentei-o na sanita, dirigi-me ao urinol e continuei a farsa. Afinal, também precisava. Até que, de repente, sinto uma mãozinha na minha coxa e vejo aflorar uns caracóis loiros a meu lado, monitorizando a manobra da primeira fila.
- Boa, pai! Estás a fazer mesmo bem!
O que até mostra uma certa sabedoria, porque eu estou a entrar precisamente naquela idade em que fazer bem xixi já nos pode distinguir de alguns camaradas de recruta.
De resto, tem sido isto. Há agora um mês, quando chegamos à raia andaluz para umas férias o mais longe possível de casa e - gravidez oblige - o mais perto possível do SNS, foi uma tortura de recusas, promessas de empenho, alarmes tardios e acidentes espectaculares. Uma tarde estávamos a andar de bicicleta, desviámos para o campo de golfe, ele escapou-se-me para o putting green, estacou:
- Pai, quero fazer xixi.
E, quando eu cheguei ao pé dele, já se formava à volta uma poça, enquanto lá ao longe um empregado corria na nossa direcção. Ainda hoje o greenkeeper não deve ter conseguido disfarçar por completo a mancha amarela na sua querida bermudagrass.
Entretanto, temos tentado avançar. Criámos rotinas, munimo-nos de apetrechos, duplicámos a atenção. Agora estamos na fase das cuecas que não são bem cuecas, mas também não são completamente fraldas: conservam os resíduos e espalham uma sensação de desconforto, a ver se o pequeno se manca. Comprámos um conjuntinho de seis, com cores e bonecos diferentes, e começámos no sábado: às onze da manhã já as tínhamos todas de molho, à espera de irem para a máquina. Parece que o meu filho não quer desfraldar. E, de repente, eu começo a imaginar-me a mudar as fraldas a ambos, aos 52 anos, um de cada vez, embora ainda faltem quatro meses e meio para o outro nascer.
Talvez não: talvez este progrida antes disso. É esperto, tem bom léxico, motricidade fina, preocupação com o outro - só falta isto. Mas, ao mesmo tempo, de quantos procedimentos o fim das fraldas me vai privar? Quem me diz que eu não vou ter saudades disto - do calor deste toque, da consciência desta contemplação, da intimidade desta dependência?

