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Com os resultados escrutinados até ao limite da náusea em tabelas e mapas azuis e vermelhos, chegou a hora de olhar para a nova realidade política dos Estados Unidos. Sem procurar entrar nos domínios da futurologia além do admissível, como será desde já afirmar que boa parte das promessas de Donald Trump nunca serão cumpridas, talvez seja interessante perceber quem, nos Estados Unidos, fica a ganhar com a estrondosa vitória dos republicanos. Atendendo ao perfil dos mais notáveis apoiantes de Trump, suspeito que os grandes beneficiados neste novo ciclo votaram maioritariamente em Kamala Harris. É irónico, mas pode fazer sentido. Quem se deita com Elon Musk mostra ao que vem. Nunca as classes desfavorecidas da América profunda poderão esperar algo de bom, embora os resultados eleitorais indiquem essa ambição. Musk é o farol da distopia, da mentira, da especulação financeira que transforma cêntimos em milhões com 144 carateres no Twitter, que rebatizou como X. A base de apoio de Kamala, pelo contrário, tem forte expressão nas grandes cidades, onde dormem as elites do berço de ouro e os que tiveram condição financeira para estudar e, consequentemente, subir a pulso à boleia do elevador social. As classes altas estarão sempre mais bem posicionadas para acompanhar o acelerador capitalista. Mas seria estúpido dizer que os eleitores de democratas são vencedores. Porque, ao perder a democracia, ninguém ganha com os resultados desta eleição. Não é preciso dissecar ponto por ponto os discursos de Trump para saber que tem o perfil de um ditador. Tenhamos apenas presente o que sucedeu quando, há quatro anos, perdeu as eleições. O povo norte-americano não sabe, e ainda bem, o que é uma ditadura. Os sinais estão todos lá, na falta de decência, na incapacidade de acatar resultados eleitorais, na relutância em aceitar os direitos da Mulher. E, mesmo assim, Trump chega ao poder legitimado pelo voto. Como tantos outros ditadores no passado, não é? God bless America.