Costumam dizer que a política é a arte do possível. Tendo em conta o que se tem passado nas últimas semanas à volta da magna questão do Orçamento do Estado para 2021, podemos também pensar que a política é a arte do óbvio ululante.
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Nestas últimas semanas o Governo, nomeadamente o primeiro-ministro, tem-se desdobrado a alertar para a inconveniência de surgir uma crise política em cima das já declaradas crises sanitária e económica. O próprio presidente da República não tem poupado esforços nem palavras nas recomendações que tem feito com o mesmo objetivo e preocupação. Por outro lado, aqueles a quem competirá viabilizar o Orçamento do Estado também têm feito o seu papel de tentar vender caro o seu "peixe", fingindo que a tal crise política, em cima das outras duas crises, não os aquece nem arrefece.
No caso emblemático do Bloco de Esquerda, até pudemos assistir a uma recordação hilariante a propósito das aprovações dos últimos anos no programa "Isto é gozar com quem trabalha", sendo que nos anos anteriores ainda nem sequer tinham chegado estas malfadadas crises sanitária e económica. Pensando aliás nestes teatros que os partidos da Oposição tão bem têm encenado, também podemos chegar à conclusão que a política, para além da definição antiga de ser a arte do possível, também passou a ser a arte do que parece impossível, mas depois não é. Uma coisa que a política também é, ou pelo menos seria bom que fosse, é a arte do respeito pelo senso comum. Embora o presidente Marcelo tenha muito essa qualidade de definição do que é o senso comum em cada momento da nossa vida política, eu diria que à data de hoje nas circunstâncias de todos conhecidas, não é preciso ser presidente da República, nem professor de Direito, nem leitor de milhares de livros desde pequenino, nem psicólogo encartado, para perceber o que é que o senso comum dita em relação ao que deve ser feito no dia da próxima votação do Orçamento do Estado. A política propriamente dita, a maior ou menor habilidade do Governo e das oposições e os factos indesmentíveis irão fazer o seu caminho melhor ou pior para uns e outros até esse dia D. Assim sendo, não é possível à data de hoje dizer que acordos serão feitos e que posição tomará cada partido, mas o que está garantido, sem a mais pequena margem de dúvida, é que o Orçamento, nos termos em que chegar ao dia da sua votação, irá ser aprovado. Alguém quer apostar?
*Empresário