"É preciso responsabilidade colectiva, a começar por mim. É difícil trabalhar em determinadas condições: primeiro ano sem dinheiro e sem reforços; no segundo ano, falta de verdade desportiva e este ano sem união dentro do clube. O meu lugar está à disposição do presidente".
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As palavras são de Sérgio Conceição. Naquele sábado, 25 de Janeiro, os dragões tinham acabado de perder a final Taça da Liga quando o treinador falou na zona de entrevistas rápidas. Apresentou-se triste, mas muito tranquilo, dando toda a sensação de medir bem cada palavra.
A decisão de colocar na mesa do escrutínio público os problemas internos de um clube com a dimensão do F. C. Porto é tudo o que os departamentos de comunicação procuram evitar, porque acreditam que a instabilidade será ainda maior se temas sensíveis forem discutidos na comunicação social. O que se passou de então para cá fica na história e ajuda a desmontar a tese de que o sucesso só é possível com mordaças na boca de treinadores, jogadores, dirigentes e até de ex-árbitros.
A verdade e a coragem, ainda mais em direto, compensam. Se o F. C. Porto tivesse perdido a Liga ou a Taça de Portugal, seguramente não teria sido por causa da frontalidade de Sérgio Conceição e, se calhar, aquelas palavras até emergiram como um contributo decisivo para alinhar toda a estrutura portista à volta do objectivo máximo de um clube de futebol, o que, não parecendo, continua a ser ganhar (à falta de melhor, às vezes festeja-se mais uma transferência das Arábias do que a conquista de um troféu).
Sérgio Conceição, e quem o acompanhou, merece bem o êxito desta viagem ao desconhecido de uma campanha atípica, com paragem pandémica pelo meio. Gostar mais ou menos do estilo do treinador fica com o nosso livre arbítrio. Mas admirar e promover a verdade é um dever. Sérgio Conceição, além dos títulos, deu uma lição, que até devia ser transformada em cartilha, por todos os clubes: a cartilha da verdade e da liberdade intelectual.
*Editor-executivo