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Foi manchete do JN e tema de discussão na semana passada. O número de escolas privadas está a aumentar, representando um terço a nível nacional, e no Porto e em Lisboa até já ultrapassou o das escolas públicas, considerando a totalidade do sistema (do Pré-Escolar ao Secundário, passando pelo profissional). Se esta evolução entre 2018 e 2023 revela, por um lado, uma dinâmica saudável do ensino particular, espelha também o desinvestimento e a desconfiança a que a escola pública tem sido votada.
No arranque deste segundo período, mais de 40 mil alunos não tinham professor a pelo menos uma disciplina, segundo o movimento cívico Missão Escola Pública. As estimativas da Fenprof apontam para que 300 mil estudantes tenham passado pelo menos três semanas sem aulas no primeiro período. E o Governo o que diz? Depois de protagonizar uma lamentável trapalhada - primeiro avançou com uma redução de 90% e depois foi obrigado a recuar -, o ministro da Educação ordenou uma auditoria e promete para março registos fiáveis sobre o número de alunos sem aulas. Aguardemos.
Mas os problemas das escolas públicas estão longe de se esgotar na falta de professores e não se resolvem com medidas tíbias como a contratação de aposentados (apenas 62 aceitaram voltar a lecionar). Há outras classes legitimamente insatisfeitas cujos protestos estão a ter forte impacto no setor. Os assistentes operacionais saturados de serem esquecidos pelos sucessivos governos estão agora a fazer valer a sua força: a de facilmente conseguirem fechar uma escola. Só no primeiro período houve oito greves - todas estrategicamente agendadas para prolongar o fim de semana - que causaram uma tremenda instabilidade aos alunos e respetivas famílias. O número total de greves até baixou, mas há aqui um efeito cumulativo de desgaste no setor com mais conflitualidade (663 paralisações, cerca de 75% do total de 2023). Não admira, portanto, que os pais que têm condições prefiram colocar os seus filhos em colégios particulares. Quem não pode resignar-se com estes números é o Governo, este ou qualquer outro, porque só uma escola pública de qualidade pode limar as iniquidades de base e acalentar a esperança de construirmos uma sociedade mais preparada, equitativa e justa.