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A maratona de debates televisivos entre os líderes dos partidos que concorrem às legislativas corre o risco de constituir, no seu conjunto, mais ruído do que esclarecimento puro e simples sobre o que diferencia cada programa. O debate entre Luís Montenegro e Paulo Raimundo, por exemplo, não trouxe surpresas quanto ao que separa sociais-democratas de comunistas.
Questões concretas como a imigração podem e devem estar no centro dos debates, uma vez que é algo fraturante, em Portugal e em muitos outros países. Os imigrantes asiáticos, que ontem protestaram em frente à Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), em Lisboa, têm toda a razão. Porquê? Como dizia há semanas Rui Moreira, num seminário promovido pela Faculdade de Economia do Porto, há trabalhos que nós, portugueses, não queremos de todo fazer, uma vez que muitos envolvem uma desvalorização social e um esforço físico pouco condizente com o país onde todos querem ser doutores.
“A desgraça de Portugal é a falta de gente. Isto é um país sem pessoal. Quer-se um bispo? Não há um bispo. Quer-se um economista? Não há um economista. Tudo assim. Veja V. Exa. mesmo nas profissões subalternas. Quer-se um estofador? Não há um estofador…”. Poderia ter sido escrito agora, mas a citação é do conde de Gouvarinho em diálogo com Carlos da Maia, personagem central na obra “Os Maias”, de Eça de Queirós. O romance é muito realista em termos de descrições da sociedade do final do século XIX. No primeiro quartel do século XXI, sem dúvida que o problema é semelhante, com uma agravante: queremos e não queremos os imigrantes, ao mesmo tempo, por motivos diversos. Um nó górdio das políticas públicas.